09 novembro, 2007

Paris de mãos dadas

Paris era como um sonho antigo, tão antigo era que estava prestes a virar apenas um sono bom.
Sempre pensei em Paris como aquela cidade onde se vai apaixonada, onde se vive um Amor, onde nos enamoramos eternamente, sei lá… O sitio onde tudo acontece.
Por este motivo, ir a Paris era mais que um sonho, era uma fantasia.
Mas mais: ir a Paris com o “mon Amourzinho”, fazer tudo o que fizemos, sentir tudo a dois e viver aquilo como se um só fossemos, era um utopia, logo não fazia parte dos planos.
Estar ali, assim tão plenamente acompanhada era uma sorte tal, que eu jamais me julgara assim abonada, mas a vida, surpreendentemente, às vezes dá-nos coisas realmente boas...
Eu fiz Paris de mãos dadas...


Como tudo o que brilha com luz própria, aquela cidade não precisa de realce algum.
Paris não é a frase feita da cidade-luz. Paris é a luz da Luz - tem uma velocidade impressionante no que concerne a Arte, Espectáculos, Museus, Actividades, etc., mas também tem uma lentidão exageradamente demorada, como quem se espreguiça numa cama lavada.
Paris, é isto. Paris é uma incoerência, mas acima de tudo, Paris é um pormenor enorme!
E o pormenor é tudo:
- A Luz fosca dos candeeiros ao entardecer, a luz cintilante da Torre Eiffel à noite, a luz matutina a cortar o nevoeiro e o friozinho da manhã, e é ainda a luz do Sol que sempre acaba por espreitar num improvável fim de tarde.

Passando aos factos, que vocês já estarão fartos desta melancolia toda, como fazer um apanhado desta indescritível viagem? Tudo o que disser ficará aquém do que foi na realidade, mas pode-se tentar…

Chegamos a Paris, Sorriso nos lábios, brilhosinho nos olhos! Tentava absorver tudo, só me apetecia ir logo procurar uma Boulangerie, tomar um café e ler um livro num banco qualquer.
Achei de imediato tudo lindo, e feita uma patetinha que nunca saíra da sua terrinha, sorria para todos os lados, não me importava de andar horas a pé (com uma meia elástica – sem comentários), dormir pouquinho, e pagar toujours 5€ pour un miserable expresso…
Até tentava falar Francês, aliás, tentávamos (…) «Je pesse pardon!»

Bom, a verdade é que não sei por onde começar…
Hum… Museus?
Não vou dizer que gostei mais do Louvre e da Monalisa que possui, só porque sim, ou porque o Dan Brown não sei lá o quê…
E o que é a Vénus de Milo ao pé da escultura de Canova do L’Amour et Psyché?
A Monalisa é a Monalisa, e já agora, para mim ela está a sorrir (independentemente das recentes descobertas de cientistas através do tal programa especial que “lê” as expressões de felicidade e infelicidade nos seres humanos…), ela sorri, mas não como eu sorri ao ver o Le bal du Moulin de la Galette do Renoir… ou ate mesmo os tectos do seu Museu - que são de cortar a respiração.

MAS, mas, se me pedirem escolhas, tops dos tops, etc, terei dificuldade, é certo, mas suponho que acabarei por desiludir alguns de vós – nada de mais. Também eu me desiludi nas “pré-escolhas” – mas é sempre assim, não é?
O Louvre é de uma dimensão enorme, é oponente, é demorado (sabiam que para o vermos integralmente precisamos de 9 meses?!), mas tem depois o pormenor do cafezinho, já fora do edifício, mas que se volta de frente para a linda pirâmide de vidro; O tal cafezinho, que lá se pode escrever coisas de Amor no verso de um marcador de um livro…

Museu?
Museu é o de Orsay. Não terei palavras para explicar. Pensar que construíram assim tão magistralmente uma simples estação de comboios… Como? Como é possível? É tão sumptuoso na sua arquitectura como nas suas obras. É grandioso. Lá está é uma grandiosidade que aqui de facto nos atinge em cheio. É grande como os braços abertos de Jesus Cristo no Sacré Cœur!
E já que se fala disto…
Catedral? Não, não é Notre Damme, é grande, mas não grandiosa. Lá perdi-me não nos pormenores dos seus magníficos Vitrais (também não estava um dia sol…), mas sim na fealdade maravilhosa dos seus Gárgulas – se ainda tivesse visto o Quasi Modo…
E um Monumento, um monumento? Bom, está é realmente dificil…

É tudo tão lindo! Tão LINDO! Desde os gradeamentos aos jardins, desde as portadas às varandas, desde as árvores às flores dos parapeitos… Os dourados das incontáveis estátuas, a beleza das pontes do Seine... Tudo…
Mas pronto, se é para eleger, pronto: A Opera de Garnier. Mon Dieu de la France! Quem me dera ter ido à sua inauguração! Imagino-me com um vestido de roda até aos pés, e o espartilho muito apertadinho e tudo o mais! Ai, que coisa! Bom, usar esta indumentária aí ou em Versailles…
Realmente! Eu só quis ser princesa e rodopiar por ali.

E por falar em rodopiar…
Romeu e Julieta, em ballet. Pela Opera Nacional de Paris, na sua nova casa. As nossas mãos dadas, o arrepio no braço, a leveza do toque – lembras-te? Acho que não preciso dizer mais nada…
Melhor refeição? Esta é fácil – também com aqueles preços, até os Croque Monsieurs em Trocadero deveriam ser um manjar divinal. Mas “A” refeição foi no Ciel de Paris, no 56º andar da Torre de Montparnasse. Ou la la!

Agora, querem saber uma das coisas que mais me surpreendeu? O espectáculo no Lido.
Achei que ia lá, para ver mais um show erótico que outra coisa, pois bem. Fiquei maravilhada.
Essa noite foi maravilhosa. Nessa noite, senti-me maravilhosa. Dessa noite trouxe uma recordação maravilhosa. Um “Agora ou nunca” vindo dos lábios dele, e que me levou à pista de dança ao som de uma fantástica orquestra.
Quiça não foi a dança da minha vida?

Não há um ponto alto da viagem, porque de facto foi TUDO, “tão bom, tão belo”… Foi tudo eterno. Mas posso dizer que houve, sim, momentos de uma felicidade tal, de uma alegria no olhar, de uma cumplicidade com as pedras da calçada, que fecho os olhos e:
- Montmartre! La Place du Tertre! E vêm-me as lágrimas aos olhos.
- A Roda na Place de la Concorde! Paris aos nossos pés! E vêm-me as lágrimas aos olhos.
- Jantar no Barco a passear pelas margens do Seine! E vêm-me as lágrimas aos olhos.
- A pista de dança do Lido e a caneta que gravou o momento! E vêm-me as lágrimas aos olhos.
- A escultura da Camille Claudelle no Museu do Rodin! E vêm-me as lágrimas aos olhos.
Mas lá está, uma vez mais: A sensação causada em mim por esta artista, mas na casa de outro (o outro que na realidade fez dela a outra e a negou…)
Contudo isto é mesmo assim! Fiquei tão feliz, tão FELIZ por ter descoberto a Camille (desconhecia por completo a sua existência e a sua obra). A Camille teve um peso brutal no meu olhar pasmo para aquela Peça: “Le fin de l’age de l’Amour”… Mas Mr. Auguste Rodin não lhe fica atrás – Têm indiscutivelmente (!) magnitude as suas peças, como se vê na beleza do seu “Beijo”, e no entanto o que mais me tocou na sua obra foi a “Mão de Deus” ou a Eva a ouvir o seu Sermão.

A viagem teve outros momentos dignos de registo, como logo no primeiro, termos de saltar as barreiras do Metro porque não tínhamos bilhete… Ou fugir do jardim labiríntico do Louvre, quando nos apercebemos que pululavam cabeças dos seus meandros devido à impressionante prostituição nocturna masculina (era ve-los a surgir do nada, do meio dos arbustos… só visto!)… Ou então atrasar o já curto sono, só para terminar o livro das cheias Parisienses…
E subir e descer as escadas do Metro com Malas e trolleys e carry on?
Ou o procurar a estátua do Escriba sentado na imensidão do Louvre – um Filme!!!!

E ficou tanto por ver! Do plano inicial, falhou a Saint Chapelle, La defense, Saint Germain de Près, a voltinha no Carrossel, Les Invalides, o Panteão…
Só houve mesmo duas coisas, que não faço a mínima intenção de rever: O Museu do Picasso e o Cemitério de Père-Lachaise (que frustração aquele túmulo do Óscar Wilde, cujo Epitáfio me levou a procura-lo e depois nada se vê, que não sejam marcas de baton…)

Enfin. C’est tout mes amies.
Só me resta agradecer…
Je t’aime mon amour! Mercie pour ces vacances.
JTM

17 setembro, 2007

1001 Eterane

Antes de tudo, peço desculpa pela demora, e também pelo tamanho e aparencia do texto - não consigo fazer isto melhor... aaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaa

(...)
Quando a Caterrine decidiu vir connosco a Marrocos, eu fiquei super entusiasmada, porque afinal além da Tilt – minha companheira de tantas férias, eu não conhecia basicamente ninguém. Sim, porque ir com o Meia ou não ir, é a mesma coisa – tal é a companhia dele… E mais a mais eu já estava a fazer alguns filmes relacionados com os ditos amigos dele de Lisboa, principalmente com o Babe - gajo de Lisboa que estava a organizar tudo e que era a pessoa com quem eu mais falava em relação a Marrocos.
Mas então porquê os filmes? aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque eu adoro cinema mas os filmes onde me metem, dão sempre errado porque há uma certa tendência a haver algum “engendrar de esquemas”… Pelo menos no passado foi assim, e quando eu percebi que afinal o Meia não ia levar a mulher, e que do grupo da viagem, as gajas se resumiam a mim e às minhas duas amigas, comecei logo a fazer uma curta metragem, a sorte é que eu sou muito má realizadora… E além do mais, o Babe, nos e-mails, telefonemas e demais acções relacionadas com a viagem, sempre se mostrou uma pessoa muito equilibrada, boa onda e até simpatizava com ele, mas quando pensava na ligação dele ao Meia, ficava um pouco boquiaberta, tamanhas me pareciam as diferenças. aaaa
Bom, filme em stand by – pelo menos até à concretização da viagem, e coração ao alto, lá vamos nós. As expectativas relacionadas com Marrocos eram imensas, mas devo admitir que para a maioria de nós, foi o plano da Caterrine que nos fez definir the Real goal: aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aa
- Dormir no meio do deserto, em reais tendas Berberes, com o verdadeiro povo nómada.
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
A viagem começou no Porto com as gajas e o Meia de carro, até à capital onde nos iamos encontrar e conhecer os outros viajantes: o Babe, o Casablanca (tipo Lisboeta que morava há 4 anos em Marrocos) e o Pachá. Os outros dois, eram um casal de estrangeiros, mas só iriam aparecer depois – A Noelle e o Michael (ela Francesa ele Alemão). Posto isto, avançamos em direcção ao Algarve para na manhã seguinte irmos apanhar o Ferry que nos levaria até Marrocos. Chegamos, alugamos os Jipes e fomos buscar os “Estranjas”. De imediato se criou muita empatia entre todos, mas houve a necessidade de dividir as pessoas pelos veículos e criaram-se então dois grupos: A Tilt e a Caterrine iriam com o Pachá o Casablanca e o Meia, e eu e o Babe, iríamos com o Michael e a Noelle – porque falávamos melhor Inglês (…)
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
A 1ª paragem foi em Casablanca, e posso dizer-vos que só não foi maior a desilusão (há sempre aquela cena do Bogart na nossa cabeça, não é?), porque já nos tinham avisado que aquilo não tem absolutamente NADA para ver… Daí seguimos viagem para Marraquexe. UAU: é maravilhoso! Aquela Medina é uma coisa! A confusão no meio das “ruelas”, as mulheres tapadas, o comércio, as bicicletas, as carroças, as motas, os carros… Tudo se vê e se vende naquelas ruas, mas a poluição atmosférica é simplesmente indesmentível e indescritível! Não há contudo nada que me fizesse gostar menos daquilo. Principalmente porque no centro de tudo aquilo, o paraíso:
O Riad! Ai o Riad…Alugamos quartos num sitio aconselhado no Guia da Lonely Planet (que eu tinha na prateleira há 3 anos – tamanha a demora na concretização desta viagem), e não nos arrependemos: Estes sítios - muito comuns nestas paragens, são casas privadas, com um jardinzinho no meio, um quintal, uma “piscininha”… Lembro-me tão bem da beleza daquela decoração - os panos brancos para tapar o Sol estendidos por cima das camas do terraço, as buganvílias brancas a imacularem ainda mais o sitio, a musica de fundo, a massagem oriental que nos fizeram (tivemos de pagar – claro!), o silencio… Infelizmente não aproveitamos grande coisa da cidade em si, porque andávamos sempre cheios de sono, tais eram as horas a que nos deitávamos e as horas a que nos levantávamos, e como não prescindi da massagem…
Bom, dali fomos para outro dos pontos fulcrais da viagem: fazer de jipe as trilhas do deserto… Meu Deus, que sacrifício. E que dor no peito tão grande, ao ver a vida daquele povo… Aqueles sorrisos, aqueles olhares, aquelas mãos… A fome, a falta de condições... Meu Deus, que projectos têm aquelas crianças? A Mãe a tirar da mão do menino uma bolacha que eu mesma dera ao filho - o que me deixou danada, mas afinal era para repartir pelas outros filhotes… Quase chorei. E o pior é que não tínhamos mais nada de comer para lhes dar… Adiante. aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Em relação à aventura de jipe nas trilhas… Bom, digamos que deixei de achar grande moca a partir da 1ª hora de solavancos, calor, e outras vontades juvenis de “sacar peões”, mas há que manter os espírito de grupo, e então lá seguimos – plenamente convencidos que não nos iríamos perder, mas claro, quais mapas, GPS ou bússola – o Babe bem me tentava acalmar mostrando-me a direcção com a bússola por cima do mapa: - “vês? Não estamos perdidos, estamos a dirigir-nos para Leste” – “Sim? E há um minuto não era afinal para Norte que era a direcção correcta?” – Sorria e tentava desdramatizar, mas eu estava-me a passar: um calor infernal num jipe que estava completamente avariado, porque nada funcionava: o AC não funcionava bem como o rádio! Mas não era só a rádio que não se ouvia, porque comprámos cassetes e estas também não tocavam… aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Olhava para a carinha da Caterrine, e os nosso cúmplices olhares mostravam que só pensávamos que nunca iríamos conseguir chegar a tempo ao deserto para a nossa noite Berbere – já estávamos perdidos há duas horas… aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
O cansaço, a sede, a fome, o calor, o calor, ah, e o calor também…
Depois era a DOIDA VARRIDA da Noelle, que era uma tipa muito fixe – entenda-se, mas que com os seus 25 aninhos (…), tinha uma aversão em ficar para trás, e então só queria conduzir tipo louca sem adrenalina suficiente que a satisfizesse, e fazer daquela trilha uma pista de F1 em pleno deserto Marroquino, com o intuito de ultrapassar a todo o custo o outro carro: aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
- “We must be the best team! Com’on guys!” E claro, tanto andou tanto fez, que quando finalmente chegamos a “porto seguro”, a bateria estava partida a meio (literalmente), as borrachas de protecção de 3 das 4 portas estavam descoladas, bem como um pedaço de uma cena qualquer do tejadilho que voou – algures nas trilhas do deserto (pode ser que um daqueles miúdos que apareciam como que por magia, no meio das rochas do deserto, a tenha achado e tenha feito uma estaca grandinha, para colocar mais visível a dita placa de orientação – “que era impossível não ver”- diziam-nos eles num Francês muito Marroquino (que quase ninguém entendia – nem a Noelle, só o Casablanca mesmo), mas a placa era tão irrisoriamente pequena, que estava no chão e, de dentro do jipe nem a conseguíamos ver… aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Bom, quando finalmente vimos os Dromedários, os sorrisos nas nossas caras era já uma luz. Aqueles olhares felizes entre todos, apesar do imenso cansaço, era já um sinal. O sinal para uma das melhores noites da minha vida: aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
- A inesquecível noite no deserto das mil e umas estrelas: 1001 Eterane!
Íamos fazer uma cena linda: Sun Set - Sun Rise. Sairíamos para o deserto ao fim da tarde, andaríamos de Dromedários 1 horita (que depois se dobrou, pq tivemos de parar duas vezes, tal era o conforto daquele meio de transporte…), jantaríamos e dormiríamos nas tendas, e então regressaríamos no dia seguinte. Mas foi melhor! Foi maravilhosamente melhor! Nem o SUPLÍCIO de andar naquele bichinho, me fez mudar de opinião. O que vivemos foi tão grande, tão especial, tão natural, tão lindo, tão lindo… aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
No final do magnifico jantar - uma Tagine (estufado de frango ou borrego) em nada parecida com as fracas Tagines de Marraquexe, fomos ouvi-los tocar tambor.
Olhei à volta e só via dunas e dunas e dunas e dunas… Metros e metros de altura, a imensidão daquele sítio. Observei toda a gente de todos os lados, vi a alegria da Caterrine deslumbrada a dançar ao som dos tambores, vi a paz na expressão da Tilt, vi o sorriso do Babe a olhar para mim, vi a cara de descanso do Casablanca - que tinha muito receio desta coisa de dormir no meio daquela gente, e pensei: isto é 1000! aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Mas ainda havia mais de 1000 – não acabava ali aquele momento impressionante, de repente começámos a vê-los levar colchões, roupa de cama, almofadas (eles levavam de tudo o que possam imaginar nas bolsas pendentes dos dromedários), para dentro das tendas, e então pensamos: Bute mas é para as dunas! Vamos dormir ao relento. E meus caros: dormir ao relento, ali, com aquela temperatura, com aquela brisa, na areia das dunas do deserto Sahara, e olhar para o céu e ver as estrelas, e pensar: “só me falta o Amor aqui”… E sabem que mais? Afinal ele já lá estava: bem ao meu lado a olhar para mim e a fazer-me festinhas nas pontas do cabelo – mas isso é outra grande história! aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa E acordar ali? Abrir os olhos e ver a aurora do Sahara (pronto, admito que abri os olhos e vi o Flash da câmara do Casablanca nas mãos do Pachá, a tirar peligrafias ao pessoal ainda a dormir - mas pronto, para não estragar o relato, até porque as ditas fotos estão LINDAS, vamos fazer de conta que acordei com o brilho solar…), participar do nascer do sol e ter ao meu lado pessoas assim tão especiais e tão queridas, fez-me agradecer (juro!) a Deus ou a Allah.
E mais palavras para quê? Trouxe tanta coisa na bagagem mental desta viagem, que seriam precisos muitos Posts para descrever tudo! Mas o melhor, o maior de tudo, a memória que jamais se apagará, foi de facto aquela noite, com aquelas pessoas, naquele sítio.
Tá bem, “prontos”: E foi o Amor que encontrei perdido no deserto, na sua 1ª forma de pedrinha fossilizada. aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
1001 Eterane *

13 julho, 2007

a Ti

Só pra dizer que te Amo,
Nem sempre encontro o melhor termo,
Nem sempre escolho o melhor modo.
Devia ser como no cinema,
A língua inglesa fica sempre bem

E nunca atraiçoa ninguém.

O teu mundo está tão perto do meu
E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu.

Só pra dizer que te Amo

Não sei porquê este embaraço
Que mais parece que só te estimo.

E até nos momentos em que digo que não quero

E o que sinto por ti são coisas confusas
E até parece que estou a mentir,
As palavras custam a sair,
Não digo o que estou a sentir,
Digo o contrário do que estou a sentir.

O teu mundo está tão perto do meu

E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu.

E é tão difícil dizer AMOR

É bem melhor dizê-lo a cantar.

Por isso esta noite, fiz esta canção,
Para resolver o meu problema de expressão,
Pra ficar mais perto, bem mais de perto.
Ficar mais perto, bem mais de perto.
(Clã)
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E mais palavras para quê?
(E a quem se indagou acerca da minha ausencia, eis o motivo...)

21 junho, 2007

Road Book

Primeiro fez-se um road book, depois avançou-se com as propostas e agora, é só fazer a mala e ir. Marrocos, não conheço, mas como uma certa "tia" diria: será aquele País que tem uma praia enorme, com tamanho arenal, que se anda km e não se chega ao mar! Chama-se Sahara e lá faz sempre imenso calor... Ah e também há lá uns cavalinhos doentinhos que possuem 2 corcundas nas costas, mas depois também há uns outros que não são tão doentes porque só possuem uma marreca :)
Depois digo como foi, para já está a ser uma emoção preparar tudo e saber que vai ser uma dureza - 4000 km de jeep em 9 dias. Mas prevêm-se tendas Tuaregs e uma Aurora que se antevê mágnifica. Bon Voyage.

15 maio, 2007

A Planar

Num Sábado como outro qualquer, o sol brilhou mais, o vento soprou com forças, a Chuva veio e o Arco Irís mostrou-se. Parecia coincidência, tanta coisa duma vez só. Tudo isto foi num sábado como outro qualquer, mas eu e mais umas 20 pessoas, sorríamos mais, e ríamos à chuva, e cumprimentávamos o sol e sentíamos o ar fresco do vento com uma alegria imensa. Tudo porque estivemos, num sábado como outro qualquer, a ouvir gente interessante a falar de coisas interessantes num sitio deveras interessante, e saímos de lá a Planar! Eu sinto-me O B R I G A D A, porque desde que entrei para o Teatro Amador, tenho tido a imensa sorte de poder apreciar e participar em coisas interessantes – pelo menos para mim, claro está!
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O José Luis Peixoto escreveu já várias coisas, e escreveu um Romance que eu estou prestes a terminar - fazendo já aqui o role da minha ignorância, admito-vos que eu não conhecia, ou sequer ouvira falar dele até me terem oferecido “O cemitério de pianos”. Na altura quem mo ofereceu – pessoa que eu entendo ser muito entendida nesta coisas literárias, disse-me: «No futuro, este Senhor vai ser tão grande como o Saramago e ainda se vai ouvir muita gente falar muito dele!» Assim que terminei o que tinha em mão, peguei nele. Fantástico, de facto. Difícil de ler, mas ao mesmo tempo tão envolvente, que só dá vontade de ler e ler e ler. Eis que “às páginas tantas” (adoro esta frase-feita, perfeita aqui), fui ver a estreia de “Por detrás dos Montes” do Teatro Meridional no Teatro Nacional de São João, e enlevada como estava com a peça, devorei tudo o que existia nas brochuras da entrada, e então leio: Sábado, dia 12 Maio, Conversa com o escritor José Luis Peixoto a propósito da sua autoria de “À Manhã” (também em cena no TNSJ a partir de 10 Maio). 17:00 horas, entrada gratuita. Fiquei pasma e pensei, que oportunidade única. É num Sábado como outro qualquer. Venho, conheço, ouço, aprendo, converso, e ainda por cima não pago. Nem hesitei. E ainda bem. Cheguei em cima da hora, cruzei-me com ele no corredor e nem o reconheci – tão diferente que é da foto no Livro, sentei-me na maravilhosa sala do S. João. Estava pertinho pertinho deles, mesmo ao pé do palco e olho em frente e vejo: Natália Luiza, Miguel Seabra. Ainda estava de boca aberta quando olho em redor e vejo na sala, actores conhecidos, famosos, do Teatro, das Novelas, e no fundo da Sala o Director da Sala - Ricardo Pais. Que coisa! Bem, sem mais delongas, porque poderia ficar aqui horas a escrever sobre tudo, tenho de vos dizer apenas 4 coisinhas:xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
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Agora que já vi também esta peça (e que magnífica peça), tenho de fazer a devida vénia ao Teatro Meridional. É fantástico, em tudo e por todo. Os Encenadores são brilhantes, há qualquer coisa neles que nos deixa a planar. Literalmente. Os Actores são excelentes. Fazerem ambos os trabalhos com tamanha entrega, sensibilidade, humor, amor… Sem palavras.
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O S. João é uma Sala Maravilhosa. Intensa. Envolvente. Carismática. Única. Como aliás foi lá dito pelos próprios: «É como se esta peça só funcionasse com esta encenação, estes autores, este público, nesta Sala!» xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
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O José Luis Luis Peixoto, é sem duvida um grande escritor. É jovem, é humilde, é bem-humorado (contrariamente ao que se pensa após as criticas do público aos seus livros um tanto ou quanto tristes), e é ágil. Tão depressa escreve um Romance, como Poesia, e depois faz uma peça de teatro (aliás várias já), e está ali a falar com a gente, sobre a maravilhosa ruralidade Alentejana – donde veio e que tão bem conhece. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
Estas iniciativas deviam, tinham, de ser bradadas por montes e vales. A paz, a sinceridade, a entrega e a humildade com que grandes personalidades ali nos receberam foi avassalador. A Natália Luiza tem mesmo aquela voz e aquele sorriso que exactamente se vê e se ouve. O Miguel Seabra falou de Teatro como emoção em todo o seu olhar, e o seu olhar abarca tudo. Acreditem. O José Luis Peixoto respondeu a todas as perguntas, sem fugir, sem rodeios, sem falsidades. E no fim, ainda conversou comigo quando lhe entreguei o meu Livro para um autógrafo. Foi mais longe, pôs uma linda dedicatória e desenhou um sol, para que eu não o achasse Sombrio, mas sim Solar. Como a Peça. Solar. xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx
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E isto tudo foi num sábado como outro qualquer.

27 abril, 2007

A António Botto

O meu Grupo de Teatro vai estrear dia 09 Junho uma nova actuação.
Desta feita vamos ter uma miscelânea de actividades, desde Comédia, a Drama, desde Fado ao Cabaret, e apesar de estas performances serem divididas pelos 10 elementos do Grupo - mais uma Senhora de fora que virá presentear-nos com o Fado, há uma actuação que será feita por todos - a Poesia. Confesso que quando vi que metade dos Poemas distribuídos, não me eram familiares, e pior: que 1 autor era do meu total desconhecimento, fiquei meio triste, meio envergonhada. Quando o encenador me dá um Texto de Pablo Neruda, fiquei de taxa arreganhada, muy contentita e então quando o li mais deliciada fiquei. Mas depois brindou-me com mais um. Um dos ditos - que eu ignorante, desconhecia, caiu-me no colo. O poema intitula-se "A Raquel Miller" e o seu autor é António Botto. O Poema é de amor, tem força, apesar de ser pequeno e é intemporal - como todos os poemas de Amor.
Decidida que sou a dar o meu melhor, achei que deveria procurar mais coisas acerca daquele autor. O António Botto foi um grande Poeta Português (ou não fosse ele quem deu a 1ª mão ao Eugénio de Andrade e não fosse ele um devoto do nosso Pessoa), basicamente expulso do País em inícios do séc. XX por estar relacionado com homossexualidade, e refugia-se no Brasil onde acaba por morrer atropelado em meados de '50. Associado a Poesia Erótica e demais, indaguei-me como o meu Poema era dedicado a uma mulher, narrado até no feminino... Mas o maior choque veio quando descobri que afinal era o tal do Poema dos "fedelhos" , que já ouvira há uns bons anos (lá está: é como dizer que não se sabe que Banda é aquela e afinal adoramos a sua música...). Mas agora publico o Post a ele dedicado e justificando-me: afinal este homem foi ostracizado, é desconhecido da maioria, e até vou recitar um poema seu, pelo que - APESAR DE TUDO, cá está a minha vénia, porque o que se segue, meus caros, é no fundo uma pérola........ aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaaa
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Nunca te foram ao cu, aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Nem nas perninhas, aposto!
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Mas um homem como tu,aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Lavadinho , todo nu, gosto!aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sem ter pentelho nenhumaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
com certeza, não desgosto,aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Até gosto!aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Mas... gosto mais de fedelhos.aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Vou-lhes ao cuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Dou-lhes conselhos,aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Enfim... gosto!

22 março, 2007

A CP

Freguesia de Pereira, 15 Km de Coimbra
4ª Feira, dia 21 de Março de 2007 - 18:35 Hr.
Uma camioneta (daquelas bem grandes, bem fortes e bem pesadas), está parada a meio da linha do Apeadeiro, avariada. Parou bem no meio da linha, quando - estando a cancela aberta tentava atravessar a via.
A Senhora responsável pela cancela, pede ao motorista para desistir de tentar conserta-la e força-o a sair da camioneta, porque não tarda vem aí o Combóio.
Tenta avisar o maquinista do Alfa que saiu de Lisboa às 16:55, mas o pobre homem só teve tempo de alertar as pessoas da carruagem mais próxima, para se afastarem, e no embate, não só tomba aquele monstro carregado de areia, como pura e simplesmente desfaz a frente toda do combóio.
Dentro da minha carruagem (nº 1 e portanto bem no fim), apenas se sente uma travagem brusca e o meu telemovel voa pra o passageiro à minha frente.
De repente parados, no meio do nada, começámos a ver pessoas a saírem de suas casas a correr, literalmente de mãos na cabeça - anunciando uma desgraça.
Evidentemente, começam as especulações: alguém se atirou à Linha, ou alguma criança de bicicleta ou triciclo foi apanhada... aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa
- "Não sentiram passar por cima de qualquer coisa?" aaaaaaaa aaaaaaaa aaa
- Não. Não se sentiu passar por cima de nada. aaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaa aa
E assim começa a cena... aaaaaaaaaaaaaaaaaa ssssssaaaaaaaaaaaaaass
Bem, só vos digo que foi um filme, uma odisseia chegar ao Porto ontem.Saí de Lisboa às 5 da tarde, o acidente foi às 18:35 e daí até às 20:45 estivemos sem saber o que ia acontecer, dentro do Alfa. Informações da CP, pedido de desculpa ou um mísero esclarecimento - népia. A partir daí foi um corre-corre a tentar sacar algo por todos os lados... Estava já há 1 hora e meia ali parada, quando é um passageiro que nos vem avisar que já estavam umas camionetas para transportar os passageiros para Coimbra... Já lá fora estavam a sair 2 camionetas, e ao frio - de RACHAR, estivemos 45 minutos (foi quando apareceu a RTP e os Jornais a fazerem perguntas a todos. Lá ao pé, era uma COISA: eles eram Bombeiros, GNR, Cruz vermelha, Passantes, Televisão, Rádio... Enfim... (como me disse a minha Pims - quem sabe não estaria a fase seguinte do meu estrelato??? Mas deixei escapar - só apareço mesmo com uma cara de meter medo, tamanhas eram as trombas com estava...). Até que um Sr. da Cruz vermelha me veio dizer que era melhor ir para o outro lado, por agora estavam as camionetas do outro lado da Linha... Volta a atravessar a linha no meio daqueles calhauzinhos, tão agradáveis para se caminhar em cima, com uns tacõezitos... Depois lá entrámos na dita camioneta e foi o motorista que me disse, que ia perguntar para onde era para ir, porque a CP a ele também não dizia nada. Passado meia estávamos num outro combóio para o Porto, em Coimbra B, e já pensava eu às 9:00 da noite: "finalmente!", quando: "Não - ainda vamos esperar pelos outros Alfas que vêm de Lisboa - o das 6 e o das 7..." - disse um Sr. que estava na estação de Coimbra Velha há 3 horas... Para arrancarmos demorou mais 2 horas. Comidinha no Bar, não havia! E eu estava sem comer desde as 2 da tarde! Para ajudar à festa, o combóio ia a abarrotar de gente em pé pelas carruagens fora, e quando arrancámos às 22:40, ouve-se finalmente os altifalantes: UAU! Bom prenuncio. Vão dar algum esclarecimento, mas não! Qual quê? A notícia era para avisar que o combóio ia parar em todas... Chegámos A Campanhã às 23:40 e o mais lindo, foi o fim da noite (que tinha de ser em beleza) - estavam para aí umas 20 pessoas na Praça táxis da estação. Os táxis? Nenhum!!! Mais um tempão à espera... Enfim. Isto só visto.A CP e a TV cabo são do melhor que há neste país. Planos B, não existem - só na noite Portuense mesmo... Não há pachorra!A parte disto, hoje não trabalhei de manhã (do mal o menos) e de momento sou mais procurada aqui dentro que as ansiadas promoções...aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaa
Ah! O Jantar foi comido em casa, às 00:30.

13 março, 2007

Prima Russa

Com ela estava-se sempre bem.
Ela era daquelas mulheres grandes, com todo o ar de não ser Portuguesa: loura, tez branca, nariz pequenino e olhos azuis. Não era um azul qualquer, os seus olhos eram da cor do Céu dos Simpsons, traziam consigo o calor do Sol de Verão, a limpidez do Mar, e a serenidade da brisa do campo. Mas era ao mesmo tempo muito Portuguesa. Forte, em todos os sentidos: quando nos pegava ao colo, quando nos apertava nos braços, quando nos defendia contra tudo e todos, quando nos fazia crer que éramos o melhor do mundo e os melhores do mundo. Quando nos ralhava e nos puxava pela mão rua fora e nos lavava a cara inteira com uma só mão cheia de água. Quando nos enchia as chávenas de Cola-Cao e fazia o leite já não saber a leite e nos dava manteiga com pão e comia ela os iogurtes caseiros da Mamã. Porque as férias de Verão eram ela e a Praia era ela e o Palácio era ela. Quando rir era rir e não fazer de conta que se ria, porque se ria de tudo e era forte na simplicidade do seu humor. E porque chorava sem vergonha de deixar cair as lágrimas e pedir ajuda.
Porque era pobre, mas sem medo algum de o ser e isso fazia-a mais rica.
E porque perdoou o homem de quem se divorciou, desde o momento em que o deixou entrar em casa de novo, apesar da traição, e porque decidiu voltar a casar com ele aos 60 anos para lhe dar alguma segurança na velhice e porque o amava ainda e sempre. Mas morreu antes de o fazer. Porque juntos tiveram 3 filhos e um deles dependeu da droga da Droga e sobreviveu e cresceu e melhorou e deu frutos, e para ver os frutos do seu fruto ela atravessou um continente e fez sózinha o seu primeiro vôo, falando apenas o nosso Português numa terra de gentes com falas estrangeiras e de povos em guerra.

Porque ela prescindia dos Natais em familia para alegrar os mais sós e mais infelizes e mais necessitados. E porque era forte também no Branco das flores preferidas e porque cria em Deus tanto quanto se pode crer. E porque amava a minha avó Florinda e como elas não há. Ela era a Prima Russa e hoje fazia anos.
E quem me dera, que me dera, poder ainda dar-lhe os Parabéns e ouvir a sua voz ao chamar-me ‘Xandrinha...

26 fevereiro, 2007

And the Oscar goes to

Hoje li, no Blog da Sú o comentário aos óscars. E concordo com ela a 100%. Tal como lá comentei, aproveito para deixar aqui o que lá disse - apenas um pequeno apontamento acerca de ontem.
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
- Pois eu 'tou com a Sú (do verbo Tar com - GF ontem): Adoro os Oscars, adoro aquela cena toda, e adoraria estar lá... Contudo sei, que como em praticamente tudo nesta vida, há muitos interesses por tras.
Finalmente Scorsese ganhou, mas o Iñarritu merecia arrecadar o Oscar. Não vi ainda todas as peliculas nomeadas, mas o Babel não é somente um excelente filme, para mim é um dos melhores, mais tocantes, mais sérios, mais abrangentes e "mais-mais", que vi em toda a minha vida. A estatueta para a Banda Sonora, não faz juz a tão grande obra prima.
A parte disto, gosto muito daquilo tudo. Admito.
E agora, que (ainda que a anos luz daquilo tudo) lá vou pisando alguns palcos, só imagino a sensação que deve ser subir ali, sorrir ali e ganhar ali.
Aliás, bastava estar ali. aaaaaaaaaaa

Enquanto isso, vou assistindo pela TV ao desfecho, sim porque nem tempo tenho para acompanhar o directo... É o dia-a-dia de nós por cá.

09 fevereiro, 2007

Porquê Sim e Porque Não

Porquê Sim aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim ao livre arbítrio aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim ao bom senso aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim à consciência individual aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim ao direito de se ser amado aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim à saúde pública aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim à evolução aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim ao amor aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

Sim à diferença aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim à sexualidade aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim à heterossexualidade aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim à homossexualidade aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim à familia aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim à justiça aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Sim à liberdade aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa

aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque Não aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque não sou Deus aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque não acredito que Deus queira penalizar aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque não sou ninguém para julgar alguém aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque sei que cada um é que sabe de si aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque tenho telhados de vidro aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque sou adulta, mas também há adolescentes aaaaaaaaaaaaaaaa

Porque só vivo a minha vida aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque não sei o dia de amanhã aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque gosto de famílias felizes mas há que nem isso tenha aaaaaaaaa
Porque somos um País livre, civilizado e moderno aaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque quero continuar a ter orgulho de ser Portuguesa aaaaaaaaaaaaaa
Porque a hipocrisia só gera medos aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque o medo não deixa crescer aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque sou mulher mas acima de tudo sou um ser pensante e errante aaaa
Porque sou humana! aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Em face do exposto e do muito mais que ficou por dizer, e considerando que no fundo tudo já foi dito, eu GRITO sim à despenalização da Interrupção Voluntária da Gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras dez semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado.

09 janeiro, 2007

As pancadinhas de Molière

As pancadinhas de Molière, é só para enganar, porque nas minhas lides nunca as ouvi. Mas, tenho andado de Junta em Junta e de Centro Paroquial em Centro Paroquial.
As Associações quase se matam para nos terem lá a actuar, e sabem que mais?
É estranho, porque eu gosto.
Qual a estranheza então? Bom, poderia começar por parafrasear o nosso Pessoa – Primeiro estranha-se e depois entranha-se, mas isso era outra publicidade… A questão é que quem me conhece, sabe que sou uma “nojentinha”, principalmente em questões de higiene, alimentação e exposição.
É que tenho estado em sitios e convivido com pessoas… que nem imaginei existirem.
Tenho visto lugares mesmo muito pobres, em quase tudo: cultura (na sua generalidade, se formos então para a arte Cénica e Dramática nem falo), gosto, modos, apresentação, etc…
Tenho entrado em supostos palcos, com supostos camarins, onde dou comigo, a não só partilhar o espaço com actoras e actores – mas vá, se são do meu grupo – menos mal, agora, como quando fomos por ex. a Valença do Minho: estava eu a descalçar o horroroso e apertado sapato do pé esquerdo da Criada Antónia, quando tropeço e dou de caras com umas costas masculinas nada familiares… e não é que era o rapazito que nos tinha estado a servir à mesa, há meia hora atrás?
Ah! a lata! Mas não. Ele é que estava em casa. Nós éramos convidados e eles iriam actuar primeiro no dito suposto palco, com uma suposta representação de um Presépio humano.
Pobre. Pobre.
Mas o Presépio tem de ser pobre, e as gentes têm de ser pobres.
Pobre de mim, que sou “tão-tão” (…), que só me apercebo disto a posteriori… ---------------------------------------------------------------------------------------------------

Ele é andar de terra em terra, à procura de alguém que nos diga onde é a Associação XPTO ou o Salão Nobre dos Bombeiros voluntários de cascos de rolha…
E o público?
Bem, o publico tanto é envergonhado como entusiasta, tanto se emociona como se ri onde não deve… Tanto nos faz vénias como olha com desinteresse.
Já houve quem falasse para mim inúmeras vezes, e me chamasse e mandasse bocas – isto quando eu me dirijo à plateia para servir os tão falados cafés: «É café, é?» «Ai menina, muito obrigado, mas já tomei.», «Ui, Ó Zé anda lá que nunca fostes assim servido», « Oh menina, isso é melhor dar ao meu home»…
Já para não falar nas pessoas que vivem aquilo de tal maneira que depois dizem que «aquela menina não devia morrer», ou então dão palpites muito sábios: «Ó meu caro amigo, você a fazer de velho não devia estar todo de branco, mas sim todo de preto…»
Verdadeiras pérolas, é o que é…
Mas o que eu nunca pensei é que houvesse gente a ir a sitios tão inóspitos…
A sério. É surreal.
Entramos em salas de associações humildes, que só têm ranchos e coro, mas a população vai lá!!! Bem como o Sr. Presidente da junta e um jornalista do Diário da terra.
Alguns contudo não percebem nada de nada do que se está a passar… Numa destas noites, no auge da amargura da peça, há uma personagem que morre. Como se passa há dois Séculos atrás, ainda há o hábito de se “amarrar os queixos”, e eis que do publico se ouvem gargalhadas… Claro que a nós, atrás do palco, apesar da vontade de chorar só nos dá para rir e é uma palhaçada pegada, principalmente considerando que estou no meio de jovens entre os 17 e os 20 anos, e como o espaço é pequeno e não nos podemos despir porque no fim temos de "ir aos agradecimentos", temos de estar ali muito "sogaditos"…
Mas há quem nos veja com olhos de ver, e no fim sempre alguém se dirige ao Encenador e elogia ou critica alguém. E há sempre flashes e há sempre, sempre, muitos aplausos!

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E quando me lembro que numa das primeiras actuações, fomos a um sitio onde depois de andarmos perdidos um tempão, chegamos e não havia luz. Viemos para a Rua e fomos vendo o povo a entrar. A certa altura disseram-nos que íamos actuar com candeeiros a petróleo e velas – «Sempre é mais real, considerando o Séc. XIX em questão»… E a música e a música??? -----------------------------------------------------------------------
Mas são estas coisas, que me fazem rir quando depois chego a casa à noite, e que – como ainda hoje de manhã, me fazem sorrir no meio do Metro quando não tenho nada em que pensar e me recordo que já lá vão 3 semanas desde o último espectáculo…
Até porque sabe muito bem o “beberete” que simpaticamente nos oferecem SEMPRE no fim de cada espectaculo, nem que este acabe depois da meia hora da noite, e aí constam os bolinhos da Sr. X e a Bôla da D. Y e o vinho, o vinho esse é o do Sr. Presidente e o Caldo Verde foi feito aqui mesmo na nossa cozinha, bem como o Pão de Ló…