09 janeiro, 2007

As pancadinhas de Molière

As pancadinhas de Molière, é só para enganar, porque nas minhas lides nunca as ouvi. Mas, tenho andado de Junta em Junta e de Centro Paroquial em Centro Paroquial.
As Associações quase se matam para nos terem lá a actuar, e sabem que mais?
É estranho, porque eu gosto.
Qual a estranheza então? Bom, poderia começar por parafrasear o nosso Pessoa – Primeiro estranha-se e depois entranha-se, mas isso era outra publicidade… A questão é que quem me conhece, sabe que sou uma “nojentinha”, principalmente em questões de higiene, alimentação e exposição.
É que tenho estado em sitios e convivido com pessoas… que nem imaginei existirem.
Tenho visto lugares mesmo muito pobres, em quase tudo: cultura (na sua generalidade, se formos então para a arte Cénica e Dramática nem falo), gosto, modos, apresentação, etc…
Tenho entrado em supostos palcos, com supostos camarins, onde dou comigo, a não só partilhar o espaço com actoras e actores – mas vá, se são do meu grupo – menos mal, agora, como quando fomos por ex. a Valença do Minho: estava eu a descalçar o horroroso e apertado sapato do pé esquerdo da Criada Antónia, quando tropeço e dou de caras com umas costas masculinas nada familiares… e não é que era o rapazito que nos tinha estado a servir à mesa, há meia hora atrás?
Ah! a lata! Mas não. Ele é que estava em casa. Nós éramos convidados e eles iriam actuar primeiro no dito suposto palco, com uma suposta representação de um Presépio humano.
Pobre. Pobre.
Mas o Presépio tem de ser pobre, e as gentes têm de ser pobres.
Pobre de mim, que sou “tão-tão” (…), que só me apercebo disto a posteriori… ---------------------------------------------------------------------------------------------------

Ele é andar de terra em terra, à procura de alguém que nos diga onde é a Associação XPTO ou o Salão Nobre dos Bombeiros voluntários de cascos de rolha…
E o público?
Bem, o publico tanto é envergonhado como entusiasta, tanto se emociona como se ri onde não deve… Tanto nos faz vénias como olha com desinteresse.
Já houve quem falasse para mim inúmeras vezes, e me chamasse e mandasse bocas – isto quando eu me dirijo à plateia para servir os tão falados cafés: «É café, é?» «Ai menina, muito obrigado, mas já tomei.», «Ui, Ó Zé anda lá que nunca fostes assim servido», « Oh menina, isso é melhor dar ao meu home»…
Já para não falar nas pessoas que vivem aquilo de tal maneira que depois dizem que «aquela menina não devia morrer», ou então dão palpites muito sábios: «Ó meu caro amigo, você a fazer de velho não devia estar todo de branco, mas sim todo de preto…»
Verdadeiras pérolas, é o que é…
Mas o que eu nunca pensei é que houvesse gente a ir a sitios tão inóspitos…
A sério. É surreal.
Entramos em salas de associações humildes, que só têm ranchos e coro, mas a população vai lá!!! Bem como o Sr. Presidente da junta e um jornalista do Diário da terra.
Alguns contudo não percebem nada de nada do que se está a passar… Numa destas noites, no auge da amargura da peça, há uma personagem que morre. Como se passa há dois Séculos atrás, ainda há o hábito de se “amarrar os queixos”, e eis que do publico se ouvem gargalhadas… Claro que a nós, atrás do palco, apesar da vontade de chorar só nos dá para rir e é uma palhaçada pegada, principalmente considerando que estou no meio de jovens entre os 17 e os 20 anos, e como o espaço é pequeno e não nos podemos despir porque no fim temos de "ir aos agradecimentos", temos de estar ali muito "sogaditos"…
Mas há quem nos veja com olhos de ver, e no fim sempre alguém se dirige ao Encenador e elogia ou critica alguém. E há sempre flashes e há sempre, sempre, muitos aplausos!

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E quando me lembro que numa das primeiras actuações, fomos a um sitio onde depois de andarmos perdidos um tempão, chegamos e não havia luz. Viemos para a Rua e fomos vendo o povo a entrar. A certa altura disseram-nos que íamos actuar com candeeiros a petróleo e velas – «Sempre é mais real, considerando o Séc. XIX em questão»… E a música e a música??? -----------------------------------------------------------------------
Mas são estas coisas, que me fazem rir quando depois chego a casa à noite, e que – como ainda hoje de manhã, me fazem sorrir no meio do Metro quando não tenho nada em que pensar e me recordo que já lá vão 3 semanas desde o último espectáculo…
Até porque sabe muito bem o “beberete” que simpaticamente nos oferecem SEMPRE no fim de cada espectaculo, nem que este acabe depois da meia hora da noite, e aí constam os bolinhos da Sr. X e a Bôla da D. Y e o vinho, o vinho esse é o do Sr. Presidente e o Caldo Verde foi feito aqui mesmo na nossa cozinha, bem como o Pão de Ló…