Com ela estava-se sempre bem.
Ela era daquelas mulheres grandes, com todo o ar de não ser Portuguesa: loura, tez branca, nariz pequenino e olhos azuis. Não era um azul qualquer, os seus olhos eram da cor do Céu dos Simpsons, traziam consigo o calor do Sol de Verão, a limpidez do Mar, e a serenidade da brisa do campo. Mas era ao mesmo tempo muito Portuguesa. Forte, em todos os sentidos: quando nos pegava ao colo, quando nos apertava nos braços, quando nos defendia contra tudo e todos, quando nos fazia crer que éramos o melhor do mundo e os melhores do mundo. Quando nos ralhava e nos puxava pela mão rua fora e nos lavava a cara inteira com uma só mão cheia de água. Quando nos enchia as chávenas de Cola-Cao e fazia o leite já não saber a leite e nos dava manteiga com pão e comia ela os iogurtes caseiros da Mamã. Porque as férias de Verão eram ela e a Praia era ela e o Palácio era ela. Quando rir era rir e não fazer de conta que se ria, porque se ria de tudo e era forte na simplicidade do seu humor. E porque chorava sem vergonha de deixar cair as lágrimas e pedir ajuda.
Porque era pobre, mas sem medo algum de o ser e isso fazia-a mais rica.
E porque perdoou o homem de quem se divorciou, desde o momento em que o deixou entrar em casa de novo, apesar da traição, e porque decidiu voltar a casar com ele aos 60 anos para lhe dar alguma segurança na velhice e porque o amava ainda e sempre. Mas morreu antes de o fazer. Porque juntos tiveram 3 filhos e um deles dependeu da droga da Droga e sobreviveu e cresceu e melhorou e deu frutos, e para ver os frutos do seu fruto ela atravessou um continente e fez sózinha o seu primeiro vôo, falando apenas o nosso Português numa terra de gentes com falas estrangeiras e de povos em guerra.
Porque ela prescindia dos Natais em familia para alegrar os mais sós e mais infelizes e mais necessitados. E porque era forte também no Branco das flores preferidas e porque cria em Deus tanto quanto se pode crer. E porque amava a minha avó Florinda e como elas não há. Ela era a Prima Russa e hoje fazia anos.
E quem me dera, que me dera, poder ainda dar-lhe os Parabéns e ouvir a sua voz ao chamar-me ‘Xandrinha...
13 março, 2007
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9 comentários:
Onde estiver, chama-te com certeza.
Oh Silvia... Acho que me emocionei mais com o teu comentário do que com o meu próprio post... Obrigada.
... eu estava aqui deste lado e vi a tua emoção ao escrever este texto. Que palavras destas não se relatam cá para fora com a indiferença de mão dada.
Se debitas as falas do teatro do teu agrado com a intensidade com que partilhaste connosco a tua Prima Russa, um dia destes tenho de te ir ver representar... Xandrina.
Legível, Obrigada.
Se conhecesses a Prima Russa sentirias também isto que todos os que a conheceram sentiram ontem - que se foi muito cedo. como canta o Luis Represas: "Mas Deus leva os que ama. Só Deus tem quem mais ama".
:)
Correcção: 'Xandrinha!!!! Erro meu que digitei "'Xandrina".
Fizeste-a feliz, por certo. Dentro de ti. No coração.
;)
Belo texto. Conseguiste descrever na perfeição aquilo que sentes por ela. Ao ler-te revi a tua força, a tua emoção, a tua alegria por teres tido uma prima russa assim!
bjs
Ontem estive a ler o último registo do teu Blog, e fiquei emocionada.
Sabes que no dia 12 de Março o meu Pai faria anos,e talvés por isso senti mais as tuas palavras...
Acho que foi uma homenagem tão bonita, que tenho a certeza que a tua Prima Russa onde quer que esteja sorriu para ti....
Beijocas
Ju
Não te stresses continuo por aqui. Beijos.
PS Nao precisas de publicar.
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