26 fevereiro, 2006

A Árvore, o Filho e o Livro

"Hoje não vou escrever nada. Vou limitar-me a pensar. Começando por aí mesmo, poderíamos inferir que já estou em contradição, dado continuar digitando estas letras. Mas a contradição já não é o que era. As relações, as profissões, as ocupações e as confecções, seguem actualizadas ao ritmo do incoerente. - Adoramos alguém que raramente vemos (se calhar por isso mesmo julgamos adorar...) - Gostamos do que fazemos ao ponto de o desdenhar - Veneramos discutíveis Hobbies dando Vivas ao verdadeiro ócio - Apreciamos o real conforto mas não vestimos essa camisola nunca Contradição? Contradição era o machismo galopante de amar só uma mulher Contradição era seguir com paternalismo a vocação (ainda) não sentida Contradição era almejar fazer música sendo-se surdo Contradição era sermos tão únicos albergando o ordinário."
Seleccionou a janela com o símbolo da "diskete" e fechou o Word. Até nisto, pensou - não o escrevendo, terá contradição. Onde está o calo no dedo de tanto escrever? Espirito de contradição - diria o Pai. Ai, os Pais os Pais... (esta frase no meio do meu texto, só faz sentido, na actualidade deste mês de Dezembro de 2003, quando se estreia «Os Imortais» na grande tela).
Suponho que deveria simplesmente abandonar esta mania, esta "P" da mania de querer criar algo, onde nunca (nest)a vida de pensarmos para os outros por nós mesmos, nos levará a lado algum.
Escrever na quimera que alguém vai ler, entender, perceber... Contos? Poesia? Fantasias? Estórias? Balelas. Não era isso que queria, apenas o que cria. O que era pretendido - lá está a contradição, era somente ser a mais comum dos mortais - qual realização profissional, qual sucesso, qual quê?
Bastava concretizar o pequeno sonho de criança... Aquele que cresceu grande ao ponto de se ter tornado enorme... Tão enorme que é impossível chegar-se a ele.
Mas a Crença também já não é o que era. Queria alcançar pelo menos 2, dos três picos da existência... A Árvore, o Livro e o Filho (davam um bom título, não?) E volta então à contradição - a controvérsia em acção. Estava decidida, se era o mais distante, teria de concretizar-se um outro. Passaria esse a ser o mais cobiçado. O mais óbvio dos menos simples... Qual? Plantar uma Árvore? Tudo bem. Semeia-se em qualquer altura. Ter um filho? Tudo bem. Cria-se em qualquer altura. Escrever um Livro? Tudo bem também... Mas não se colhe em qualquer altura. Esta é a única grande incontrovérsia - não é contraditório como o que se pretendeu, ao definir os três objectivos. Por isso pareceu mais tangível, alcançável e, talvez por isso, se deseje mais querendo menos. É do tipo que por ser tão óbvio é seriamente ofensivo não o obter. Como conseguir? Disse às mais variadas entidades (!) que pior seria o medo de fracassar. Sempre o medo do fracasso. Mas o fracasso - assim lhe chamam, só fracassa porque (contrariamente ao que seria de esperar) não se engana mais, não se vence mais. Apenas demasiadamente, não se deseja.
Antes a morte que a má sorte? Não. Antes sofrer a não ter de saber! Mas então... E agora? Como escrever? Como começar? Como terminar? Precisava de ajuda.
"Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir, convence-se que os mortais não podem encobrir segredo algum, porque quando os lábios se fecham, falam as pontas dos dedos e a emoção transpira por todos os poros.
Sigmund Freud. Neurologista, mas com muito sentimento. Então a Psicanálise... Exactamente. A contrariedade humana, a controvérsia da alma, a conturbação da mente, o contrapasso do corpo. Porque há-de ser o mundo dos mortais, o real? Os cães são cada vez mais humanos. Os televisores cada vez mais companheiros. Os emails cada vez mais carteiros. O amigo cada vez menos presente. A tertúlia cada vez menos boémia. As notícias cada vez menos novidade. É a informática que domina. O computador é quem pensa. O software é que memoriza. No fundo, os homens têm de (de)ter a sensibilidade de ir para além do que conhecem, porque quando não se sabe, muito se imagina e, quando se imagina sente-se na pele a possibilidade de tudo ser real, possível, como num sonho.
Quantas vezes não se detiveram a indagar a realidade ainda a pairar de um sono sonhado? Para mim, o real é que é infinito e o imaginário tem a sua finitude logo à espreita - do sono, do toque, do som. As pessoas enganam-se, com o que julgam ser real. Julgam-se com a sua realidade intima, na suposta realidade partilhada. É como a velha história da Rosa que ao deparar-se com a realidade de existir um legume de nome Couve-Flor, lhe fala da sua petulância na partilha do "género floral" e desata em comparações - a aspereza do seu toque, com o sedoso das pétalas que possui; o seu cheiro, com o perfume que só ela exala; o seu corpo grosso, com a delgada haste que a sustém... Mas esquece-se que a si, ninguém quer comer...
Afinal a contradição do visível não se explica, só se sente e o mais cego é o que não quer ver. A espécie humana devia em 1º lugar repensar, depois revoltar e só no fim revolucionar. É mesmo assim, como quando ao pé de um precipício - só se avança dando um passo atrás."
Desta vez, imprimiu ao invés de salvar. Pensou que se deixasse ao acaso a realidade do Papel ela andasse para frente olhando para trás. Assim foi. Quando ela pôs os pés no chão, a realidade puxou-a: A quimera de conseguir desenhar palavras, pintar frases... Mais óbvio seria dedicar-se à leitura em vez da escrita. Lembrou-se do sonho durante o seu sono, onde o computador tinha um calo de tanto escrever...
Então deu um passo em frente olhando para trás. Lá estava... Pronto a ser lido. Seria possível? A contradição do que vivia, ou do que não via, não lhe dava outra hipótese. Tinha de entregar isto. Duvida ainda. Sempre a dúvida. Porém, fora ela mesma, no mais intimo do seu ser, quem o sonhou. Buscou respostas para calar a incredulidade e, concluiu que o Real tinha uma infinitude de possibilidades e, a sua realidade não poderia ser o não crer.
Então disse de si para si:
- «Agora sim. Quando vier o filho, plantarei com ele a minha Árvore.»
Afinal, este era o mais difícil dos menos óbvios.
Fim.

21 fevereiro, 2006

Pessoas como nós.

“Pessoas como nós?! Nós jamais seremos simples!”

Há uns tempos atrás um homem que amei disse-me isto.
Na altura, completamente levada pela sensação de “ter” ali alguém que era como eu, achei que aquela fora das frases mais-mais que ouvira, ou ouviria.
Tamanha paixão, tamanho fogo… Mas não.
Nós jamais seremos simples.
Pois é.
Eis a questão.
Não é mais o ser ou não ser – isso é muito simples! Para mim parece que é o ser como nós éramos, como somos, como sou - que é o não se ser simples (tenho de o admitir), é que é a questão.
Mas isto é tão ridiculamente estúpido, que até o mais simples dos seres se riria disto.
E então apetece-me sair daqui, da complexidade da minha vida.
O que é de facto ser-se ou não se ser simples?
Pessoas como nós? Nós jamais seremos simples!
Achei sempre que isso me enlevava, me punha num patamar acima dos restantes, a tal intangibilidade de que alguns já me acusaram.
Isso na época punha-me mais próximo dele e mais longe dos outros, porque nós éramos diferentes de tudo.
Aliás tão diferentes, que inclusive éramos estranhos um ao outro de tão diferentes que afinal éramos, tão diferentes que não poderia obviamente dar certo e acabou, como tudo acaba. Mal.
O que eu quero com tudo isto dizer (e já parece que ando aqui no redemoinho de não saber ser simples – nem a escrever), é que como disse Deus:
- “Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus”. Na mesma dada altura, e a propósito aliás desta mesma citação, surgiu a discussão do Ser Simples X Ser-se Simples e, da incompreensão quanto à frase dos Evangelhos. Ambos concluímos que não poderíamos levar à letra a frase, e soubemos então que se tratava de se ser verdadeiramente simples e não simplesmente um pobre de espírito – em contradição com a negatividade dada hoje em dia à expressão - onde afinal felizes os que são ricos em espírito.
O Ser Simples sabe ser simplesmente simples. Tão simples que não se questiona quando ama, quando não gosta, quando se ri ou quando chora… É tudo tão simples. É nascer e morrer, sem confusão nenhuma.
Mas não agora tudo, tudo, tudo tem de ter uma explicação.

Nada pode ser simplesmente assim tão simples.
A confusão toda está aqui, e aqui jaz. Ninguém pega nela, ninguém a vê e somos todos muito ricos em espírito, tão completamente sabedores e conhecedores de tudo, que nos escapa o mais simples. A mim por ex., escapa-me o Amor. Há tanto tempo, Deus meu.
Pessoas como nós de facto jamais seremos simples, porque se fôssemos teríamos visto a simplicidade das coisas. Aquela relação era tão complexa que jamais poderia ser Amor.

O Amor, quando o é, é a coisa mais simples do mundo.
Será que estou condenada e pessoas como nós jamais seremos simples?

14 fevereiro, 2006

A todos os que leram, lêem ou venham a ler o que (tento) escrever:

Tenho um (!) defeito, escrevo muito depressa e como tal salto letras, troco sílabas de lugar e até como palavras (…) Mas como já foi provado cientificamente, a mente humana habituada que está a ler, apesar de ver toda a palavra formada, lê apenas o início e o final de cada uma, dando-lhe só posteriormente o sentido que melhor advém no contexto da frase que assimilou.
De qualquer modo, se esta explicação não vos for suficiente, desculpem-me.

Estas falhas são próprias apenas de quem fala com a ponta dos dedos…

13 fevereiro, 2006

Os tais 5 hábitos estranhos

1) Por os talheres de alternados de cima para baixo, no sentido de mais facilmente distinguir os de peixe dos de carne e dos de sobremesa, etc... É um bocado a mania do Não-Desperdicio (neste caso, é quase um três em um: Não há desperdicio de tempo à procura de este ou aquele, nem há desperdicio de espaço porque assim uns encaixam nos outros e, também não há desperdicio de racíciocinio - é assim o mais lógico...)
2) Conjugar tudo no vestuário: é o cinto com os sapatos, com as luvas, o cachecol... Se pintar as unhas de vermelho, até o verniz lascar tento vestir sempre vermelho (dispenso comentários)
3) Escrever sempre a Azul, detesto escrever a preto.
4) Bater com o calçado 3 vezes (Tipo "cruzes canhoto") no chão, quando ficaram virados de "pernas para o ar" e acrescentar «Vade retro satanas, deixa a nossa vida em paz»
5) Last but not the least: a P* da Mania da perfeição, mas onde tudo tem de estar à minha maneira, no sitio que eu escolhi, do modo que quis. Em minha casa por ex. : é o querer deixar que toda a gente se sinta à vontade, e então já está definido por mim, como vai sero melhor para todos... Detesto que mexam nas minhas coisas, mas Adoro que se sintam em casa!
P.S. há ainda mais um montão deles, e alguns iguais a outros que já li aqui ( a roupa por cores, o falar falar falar, as molas da cor da roupa), mas fiquemos por aqui.

A escolha do Título

Quem tem olhos para ver e ouvidos para ouvir,
convece-se de que os humanos não podem encobrir segredo algum.
Porque quando os lábios se fecham, falam as pontas dos dedos
e a emoção, essa, transpira por todos os poros.

(Sigmund Freud)

À minha Prima

The good times make us going, but the bad times make us growing.
Tudo é um desafio e apesar de no da vida ser necessário chegar-se ao fim de pé, não interessa ganhar sempre. Quando se ganha já se perdeu tanto, e quando se perde há sempre ainda muito a ganhar. Não vale de nada saltar etapas e ultrapassar dores. Há que viver tudo, sentir tudo, e fechar os olhos apenas para dormir descansada.
Boa Noite
Pims