27 março, 2006

O repente da Vida

A vida é um repente.
Dizer isto deveria fazer-me abrir os olhos e não fecha-los.
Mas não. Só me apetece fazer de conta que não…
Eu não sei lidar com a Morte. Não sei.
Não entendo, não aceito e não me conformo.
Tudo passa, mas a morte não passa. Nem passa ao lado.
O que pode passar é a dor. A dor de quem cá fica.

Escrevo isto, ao fim de quase um mês sem publicar nada; não fazia parte dos meus planos publicar algo deste género, mas faço-o porque hoje me apeteceu. Este assentimento incomoda-me muito e, à medida que os anos passam, eu deveria ir começando a absorver isto melhor, mas cada vez “me” morrem mais conhecidos e amigos e familiares, e eu cada vez sinto mais e cada vez entendo menos.
Já me morreu uma pessoa MUITO chegada, nomeei-a o meu Anjo da Guarda – e acredito, acreditem. E ela é-o. Sinto-o... Mas quando penso nisso, desacredito-me de tudo e acho-me completamente estúpida, e burra e ignorante, não inocente – isso não. Ignorante mesmo. Porque sei que não sei nada. Não sei de nada e sou um nada. Somos um Nada. A vida escapa-nos num segundo e nós deixamos todos os segundos nos escaparem por entre os dedos.
Sinto-me tão mesquinha, tão mal e tão estúpida ao aperceber-me disto e nada fazer. É como se ficasse igualmente impotente, perante tamanha soberania…
Por exemplo: hoje soubemos no trabalho que tinha falecido um colega. Tudo em estado de choque. Assim, de repente. Porquê? Como? COMO?
Tudo andou a girar em torno disto toda a santa manhã, mas logo o mais feio do que temos cá dentro, vem ao de cima, porque em todos os momentos, somos mesquinho e maus e feios. Estamos todos em estado de choque, mas num ápice a surge a cusquice de quem vai ao funeral, de quem leva flores, de quem é mais chegado, de quem dá a notícia…
É ridículo!
O meu Director está de Férias, depressa me indaguei se deveria avisar ou não. e não soube mesmo o que fazer.
Logo surgem 1000 opiniões, de que não se deveria ter feito isso, que se deveria ter feito aquilo… E discute-se. Porque o Ser Humano, é tão humano (porque só o Homem é assim) e tão ridiculamente convencido e mesquinho que tem necessidade de intervir. Para nada. Isto não tem remédio. Ou terá?
Mas nós não sabemos nada.
É horrível!
Sinto-me horrível, porque não escapo aos comentários, porque me deixo levar por eles, e porque os faço também.
Porque também julguei outros quando estava eu de férias e o meu agora Anjo da Guarda faleceu, e ninguém me disse e eu só soube quando voltei.
E julguei-me má e feia e mesquinha, porque me divertia, enquanto outros choravam. Porque as minhas lágrimas vieram tarde. E choro porque digo isto, sabendo que mesmo que eu cá estivesse nada mudaria. As minhas tão importantes lágrimas, não diminuem a Morte, nem eu sou afinal assim tão importante…
É tudo tão fugaz.
É tudo tão estranho, que não sei porque não atinamos todos da cabecinha e nos deixamos de tretas. Sim, porque tudo isto são tretas. Conversas da treta. Mesmo esta que agora tenho convosco.
Há alguém que me explique por favor, não como se eu fora uma criança de 2 anos – porque aí tudo se entende melhor, mas que me explique devagarinho a ver se eu entendo, como é que a Morte acontece. Porquê?
Eu sou Católica, e crente e até tenho Fé, mas não pratico. Ou pratico muito pouco. Será por isso? Mas pronto, acredito.
Posto isto, tudo acerca do Fim me deveria acalmar. Mas não. Sinto um medo, um pânico, um nó na cabeça e um aperto no coração. E só me vem à cabeça a palavra solidão e então tenho um medo pavoroso - por quem vai e por mim, que cá fico.
Porquê?
Porque raciocino - lá está, penso logo existo.
Mas não percebo nada.
Acho que nem o Descartes percebia…
Então a lógica começa a funcionar e penso, que não é possível haver a vida depois da Morte, nem o Destino (em que eu também creio), nem mesmo a reencarnação – que apesar de ir contra os ensinamentos Católicos, também me levam a acreditar), e então penso: Para quê? Como? Não faz sentido. Não tem cabimento nenhum. Como se acaba assim? TEM de haver um motivo.
Será Deus?