22 março, 2007

A CP

Freguesia de Pereira, 15 Km de Coimbra
4ª Feira, dia 21 de Março de 2007 - 18:35 Hr.
Uma camioneta (daquelas bem grandes, bem fortes e bem pesadas), está parada a meio da linha do Apeadeiro, avariada. Parou bem no meio da linha, quando - estando a cancela aberta tentava atravessar a via.
A Senhora responsável pela cancela, pede ao motorista para desistir de tentar conserta-la e força-o a sair da camioneta, porque não tarda vem aí o Combóio.
Tenta avisar o maquinista do Alfa que saiu de Lisboa às 16:55, mas o pobre homem só teve tempo de alertar as pessoas da carruagem mais próxima, para se afastarem, e no embate, não só tomba aquele monstro carregado de areia, como pura e simplesmente desfaz a frente toda do combóio.
Dentro da minha carruagem (nº 1 e portanto bem no fim), apenas se sente uma travagem brusca e o meu telemovel voa pra o passageiro à minha frente.
De repente parados, no meio do nada, começámos a ver pessoas a saírem de suas casas a correr, literalmente de mãos na cabeça - anunciando uma desgraça.
Evidentemente, começam as especulações: alguém se atirou à Linha, ou alguma criança de bicicleta ou triciclo foi apanhada... aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaa
- "Não sentiram passar por cima de qualquer coisa?" aaaaaaaa aaaaaaaa aaa
- Não. Não se sentiu passar por cima de nada. aaaaaaaaaaaaaaaaaaa aaa aa
E assim começa a cena... aaaaaaaaaaaaaaaaaa ssssssaaaaaaaaaaaaaass
Bem, só vos digo que foi um filme, uma odisseia chegar ao Porto ontem.Saí de Lisboa às 5 da tarde, o acidente foi às 18:35 e daí até às 20:45 estivemos sem saber o que ia acontecer, dentro do Alfa. Informações da CP, pedido de desculpa ou um mísero esclarecimento - népia. A partir daí foi um corre-corre a tentar sacar algo por todos os lados... Estava já há 1 hora e meia ali parada, quando é um passageiro que nos vem avisar que já estavam umas camionetas para transportar os passageiros para Coimbra... Já lá fora estavam a sair 2 camionetas, e ao frio - de RACHAR, estivemos 45 minutos (foi quando apareceu a RTP e os Jornais a fazerem perguntas a todos. Lá ao pé, era uma COISA: eles eram Bombeiros, GNR, Cruz vermelha, Passantes, Televisão, Rádio... Enfim... (como me disse a minha Pims - quem sabe não estaria a fase seguinte do meu estrelato??? Mas deixei escapar - só apareço mesmo com uma cara de meter medo, tamanhas eram as trombas com estava...). Até que um Sr. da Cruz vermelha me veio dizer que era melhor ir para o outro lado, por agora estavam as camionetas do outro lado da Linha... Volta a atravessar a linha no meio daqueles calhauzinhos, tão agradáveis para se caminhar em cima, com uns tacõezitos... Depois lá entrámos na dita camioneta e foi o motorista que me disse, que ia perguntar para onde era para ir, porque a CP a ele também não dizia nada. Passado meia estávamos num outro combóio para o Porto, em Coimbra B, e já pensava eu às 9:00 da noite: "finalmente!", quando: "Não - ainda vamos esperar pelos outros Alfas que vêm de Lisboa - o das 6 e o das 7..." - disse um Sr. que estava na estação de Coimbra Velha há 3 horas... Para arrancarmos demorou mais 2 horas. Comidinha no Bar, não havia! E eu estava sem comer desde as 2 da tarde! Para ajudar à festa, o combóio ia a abarrotar de gente em pé pelas carruagens fora, e quando arrancámos às 22:40, ouve-se finalmente os altifalantes: UAU! Bom prenuncio. Vão dar algum esclarecimento, mas não! Qual quê? A notícia era para avisar que o combóio ia parar em todas... Chegámos A Campanhã às 23:40 e o mais lindo, foi o fim da noite (que tinha de ser em beleza) - estavam para aí umas 20 pessoas na Praça táxis da estação. Os táxis? Nenhum!!! Mais um tempão à espera... Enfim. Isto só visto.A CP e a TV cabo são do melhor que há neste país. Planos B, não existem - só na noite Portuense mesmo... Não há pachorra!A parte disto, hoje não trabalhei de manhã (do mal o menos) e de momento sou mais procurada aqui dentro que as ansiadas promoções...aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaa
Ah! O Jantar foi comido em casa, às 00:30.

13 março, 2007

Prima Russa

Com ela estava-se sempre bem.
Ela era daquelas mulheres grandes, com todo o ar de não ser Portuguesa: loura, tez branca, nariz pequenino e olhos azuis. Não era um azul qualquer, os seus olhos eram da cor do Céu dos Simpsons, traziam consigo o calor do Sol de Verão, a limpidez do Mar, e a serenidade da brisa do campo. Mas era ao mesmo tempo muito Portuguesa. Forte, em todos os sentidos: quando nos pegava ao colo, quando nos apertava nos braços, quando nos defendia contra tudo e todos, quando nos fazia crer que éramos o melhor do mundo e os melhores do mundo. Quando nos ralhava e nos puxava pela mão rua fora e nos lavava a cara inteira com uma só mão cheia de água. Quando nos enchia as chávenas de Cola-Cao e fazia o leite já não saber a leite e nos dava manteiga com pão e comia ela os iogurtes caseiros da Mamã. Porque as férias de Verão eram ela e a Praia era ela e o Palácio era ela. Quando rir era rir e não fazer de conta que se ria, porque se ria de tudo e era forte na simplicidade do seu humor. E porque chorava sem vergonha de deixar cair as lágrimas e pedir ajuda.
Porque era pobre, mas sem medo algum de o ser e isso fazia-a mais rica.
E porque perdoou o homem de quem se divorciou, desde o momento em que o deixou entrar em casa de novo, apesar da traição, e porque decidiu voltar a casar com ele aos 60 anos para lhe dar alguma segurança na velhice e porque o amava ainda e sempre. Mas morreu antes de o fazer. Porque juntos tiveram 3 filhos e um deles dependeu da droga da Droga e sobreviveu e cresceu e melhorou e deu frutos, e para ver os frutos do seu fruto ela atravessou um continente e fez sózinha o seu primeiro vôo, falando apenas o nosso Português numa terra de gentes com falas estrangeiras e de povos em guerra.

Porque ela prescindia dos Natais em familia para alegrar os mais sós e mais infelizes e mais necessitados. E porque era forte também no Branco das flores preferidas e porque cria em Deus tanto quanto se pode crer. E porque amava a minha avó Florinda e como elas não há. Ela era a Prima Russa e hoje fazia anos.
E quem me dera, que me dera, poder ainda dar-lhe os Parabéns e ouvir a sua voz ao chamar-me ‘Xandrinha...