07 julho, 2006

Esqueletos no armário e macaquinhos no sótão

Ninguém me perguntou nem me pediu nada, mas se querem a minha opinião, mais vale não guardar esqueletos no armário. A conversar é a que a gente se entende - nem que seja connosco mesmos. Aliás, pelo menos isso.
Não devemos guardar mágoas nem rancores, e muito menos mal entendidos.
Muito menos isso.
A falta de comunicação é no que dá.
E podem crer que as relações humanas são do mais complicado que existe.
E todos nós temos esqueletos nos armários e macaquinhos no sótão...
Então eu...
Podem não acreditar, mas ainda ontem, estive a retirar um esqueleto do meu armário.
Fui à garagem buscar o saco onde estavam as memórias de um antigo namorado - com o qual acabei há 11 anos!!!!

Queimei fotografias – literalmente, num cinzeiro que acabou por partir (sim, sim, foi tipo melodrama Sul Americano, mas não houve quaisquer lágrimas :)
Aliás, lá saltar o coração saltou, mas foi quando me levantei de impulso, porque pensei que o cinzeiro de vidro ia explodir e atingir-me e, que ainda por cima ia queimar o chão da varanda - o que por acaso acabou por acontecer - o chão queimado, não o resto.
Bom, depois assim que revi todas as ceninhas estúpidas que guardei, fui a correr às 11 da noite para o contentor do lixo…
E mais, pus num saco as prendas boas para dar a alguém e, até juntei um sobretudo que eu adorava e que foi a Mãe dele quem mo ofereceu na altura...
Enquanto fazia isto, só pensava nos meus 17 anos, quando namorei a sério pela 1ª vez, e de quando acabamos, a minha melhor amiga – meu ídolo em questões amorosas, me dizer:

- "Rasga! Deita tudo fora. Assim é melhor e já não ficas agarrada a isso.”
Na altura fi-lo de imediato, mas porque ela estava ali a olhar para mim, e eu a olhar para ela e a ver que ela tinha razão. Fi-lo, mas só me apeteceu não ter de o fazer.
Bom, a verdade é que mal não me fez, antes pelo contrário. A vida continuou e até se encarregou de nos levar ao encontro um do outro de novo, 7 anos mais tarde…
Então pensei: “se o fiz na altura, porque não arranjei coragem antes de hoje para o fazer com este outro? Só porque foi uma coisa mais madura? Mais séria? Mais longa? Nã! Há que acabar com isso.” E foi assim.
E tudo isto começou, porque a minha Mãe me dizia que não entendia como eu ainda tinha o “raio do casaco”… Bom, a verdade é que é muito giro e todos os Invernos o usei… Ou seja, pelo menos aquilo tinha tido uso. Mas volta e meia ela lá vinha com a história do sobretudo... E mal ou bem, eu sempre soube que ela tinha razão… Mas era tão giro… Agora, o pior não era o sobretudo – verdade??? Eram as coisinhas todas que “escondi” na garagem, longe da vista, mas ali bem à mão…
Ontem quando lhe disse o que finalmente pretendia fazer, sorriu e disse-me: "até vais rejuvenescer 10 anos quando te livrares daquilo!" (e acho que ela nem sonha que eu guardei o resto...) Está feito. menos um esqueleto. E ainda há a possibilidade de rejuvenescer 10 anos!!!
Bem, também não é que isto seja um feito extraordinário. Não é que andasse presa a esta acabada e enterrada relação, mas porque é que guardei aquelas tretas? PARA QUÊ?
Até porque depois dele, já me apaixonei perdidamente umas 3 ou 4 vezes e até cheguei achar que tinha encontrado “At last” o Homem da minha vida - mas não...
A cena é que eu sou muito assim, de recuerdos - dramas melosos com frases do género: Ai-um-dia-vou-rever-isto-e-não-sei-o-quê...”
Enfim…

Fi-lo ontem, já o deveria ter feito antes, mas ontem à noite disse "chega de medos" - era ridículo continuar a manter as coisas como estavam…
Agora podem perguntar-me, se me sinto melhor, ou menos pesada? Ou mais leve, ou mais esperançada? Não! De facto, não.
Mas sinto pelo menos que já não será por ainda "ter" aquilo tudo agarrado a mim, que as coisas possam não andar para a frente comigo.
You know...

7 comentários:

Anónimo disse...

Acho que é a isso que chamam bagagem. E, se pensarmos bem, faz todo o sentido. Cada nova relação é uma nova viagem. Para mim, a melhor maneira de a fazer é viajar levezinha, levar pouca coisa, ficar à espera de encher a mala durante a estadia e deixar-me deslumbrar pelas maravilhas do novo destino. O meu sonho era mesmo viajar sem nada a não ser um cartão de crédito no bolso! A única coisa que aproveitava de viagens passadas (para além das boas recordações) seria o conhecimento dos procedimentos, ok, agora faço o check in, trago o passaporte, siga para o portão de embarque e mai'nada! Já por isso e por causa das coisas e do problema derivado da questão, as companhias impõem um limite máximo de 20 kgs. Levas mais, ficas em terra, a ver aviões...

Susana

Sofia disse...

É isso mesmo: limpar o sotão. Eu sempre tive essa mania de de vez em quando esvaziar armarios, ver o que já nao interessava e arrumar a "casa".
Fico feliz que finalmente o tenhas a começado a fazer. Nao devemos ficar agarradas ao passado. Nunca o devemos esquecer mas nao podemos permitir que eles nos atrapalhe no resto da nossa "viagem".
Parabens. Se precisares de ajuda na arrumação estou por aqui.

Beijos

isabel disse...

Caramba!! Eu já tinha dito que o Verão de 2006 promete, mas realmente... O casaco nem era nada giro! Era muito 70's e estava mais do que ultrapassado, já não podia ver-te com aquela bodega. Quanto aos esqueletos no armário, chama-lhe o que tu quiseres, eu ainda tenho os meus dessa mesma época, não estão é no armário estão no sotão, qualquer coisita mais fora do alcance, mas cruzo-me com eles a toda a hora....e não os deito fora! Nem pensar....tenho uma caixa cheia desses eaqueletos, que dias tão felizes me trouxeram, e outra caixa cheia de get well soon cards a lado, que certamente recordas de quando....O que é preciso (na minha opinião) é guardar as coisas bem guardadinhas. Também não gosto de deitar estas coisas fora, nem memórias das pessoas, volta e meia aliás lá venho eu com a melancolia desse ex-namorado (....)mas lá está ele, arrumadinho num cantinho muito especial do meu coração. Nem me incomoda.......

Está é na altura de dares mais passos desses, rejuvenescer sim, e rejuvenescer não é só deitar as velhices fora, é também adquirir novas coisas, trocar o espaço das velhices por novices (inventei agora esta palavra). Dá-te tempo, produz-te, (eu até trouxe uma peruca da Alemanha que posso emprestar...)muda de atitude, se calhar é mais por aí (???não?) e sê feliz. Contigo. Não precisas de mais nada nem de mais ninguém. Acordaste hoje, não acordaste? Conseguiste respirar fundo certo? Agradeceste ao mundo pr estares a fazer parte dele HOJE? É qe nunca mais vai haver o dia 10 de julho de 2006....Nunca mais.....Por isso tens qu o viver como ele é. O unico.

Rui disse...

Que mais coisas ficaram na garagem? Que amarras continuam lá?
Não há respostas nem soluções em garagens. Só devem servir para guardar aquilo que nos faz avançar.

Se precisares de fazer um fogueira, fala comigo. :)

Alberto Oliveira disse...

Tenho alguma dificuldade em guardar "coisas". Aquelas que guardo têm de ter um determinado valor estimativo. Cartas, fotografias, vídeos, discos em vinil (é verdade, ainda sou desse tempo e o espaço que os LP´s ocupavam... )e, pasme-se! até algumas coisas que fui rabiscando, desenhando e pintando muito novo, se não tiverem esse tal valor... lixo com elas. É que ao fim de uns anos largos -a não fazer essa "selecção", deixa-se de ter uma casa-habitação para ter uma casa-museu...
E perguntarás tu «E as coisas das tuas namoradas? Também deitaste fora?». Pois; aí é que a porca torce o rabo. Não tive coragem; sempre foram algumas e... fazem parte do meu currículo*


* risos.

Maria Liberdade disse...

Adorei este post... foi das poucas coisas que me fez sorrir hoje. E a tua amiga é cá daa minhas... comigo tb vai tudo para o lixo!

Fortunata Godinho disse...

À Silvia,
Só para tirar teimas, refereste ao 1º comentário, certo?
É que depois dela outra amiga minha deixou uma mensagem com opinião em campo oposto - ela guarda tudo...
Mas pronto, temos de fazer o que nos fizer sentir melhor, e honestamente: guardei outras coisas de outros, mas que estão "à vista", agora aquilo "escondido" é que realmente não fazia sentido - não achas?