19 junho, 2006

Botar p'ra fora

Pensei que devia escrever qualquer coisa – mais que uma vontade latente, é algo que me faz bem. Mas depois indaguei-me acerca do que deveria escrever. Devo escrever algo que as pessoas gostem e queiram ler.
E lá vêm os “deverias”… As regras rígidas e inflexíveis que teimo em não quebrar…
A verdade é que não tenho nada acerca do que escrever, porque neste últimos tempos não tenho tido grandes coisas na minha vida.
Sinto actualmente, erradamente já sei, que ando aqui quase que como por andar… Ainda não descobri o meu lugar aqui, ou então já percebi que é um mero lugar como o de tantos outros e como queria mais, sinto-me insatisfeita.
É isso.
Sempre pensei que com esta idade já estaria com a vida minimamente delineada, provavelmente casada, ou pelo menos acompanhada, que teria filhos, etc…
Não tenho companhia, mas companhia mesmo, há tanto já, que me sinto a anos luz de estar casada ou verdadeiramente acompanhada.
Os anos passam e com eles a nossa capacidade (das mulheres), em gerar uma vida vai diminuindo cada vez mais, enquanto o risco de uma gravidez complicada, aumenta cada vez mais – pelo menos no caso de um 1º filho.
Tenho a minha casa própria, mas olho para ela e penso que gostava era de a ter cheia e como lá estou sozinha, passo a vida a “fugir” para a casa dos meus Pais.
Tenho o meu carro, mas a gasolina está tão cara que passo a vida a andar de Metro.
Tenho montes de amigos, e vários são AMIGOS mesmo, mas aborreço-os com estas minhas crises existenciais e é como se já não tivéssemos mais que dar uns aos outros. E cansamo-nos uns dos outros e a vontade é de conhecer mais gente, mas sabendo sempre que temos ali o nosso porto seguro.
E faço parte de uma família tão unida, tão feliz, que só me faz pena ver que com a minha idade os meus Pais já tinham 2 filhos quase adolescentes e a sua vida mais que traçada, e eu népia… Consumo-me porque gostava de cumprir com os desejos sinceros e desesperantes da minha Mãe que só queria um neto (ao ponto de já me ter dito, que mais valia eu ter engravidado do meu ultimo namoro e apesar de já não estarmos juntos, me disse: “olha, a criança já estava nascida meio-criada”… a Minha Mãe, que eu saiba não sabe se sou virgem ou não (…)
E o meu Pai… O meu Pai provavelmente olha para mim e não entende também, mas como é homem, desvaloriza o que nós (sobre)valorizamos. Ou não, ou não.
E isto assim continua…
(bem isto já me está a soar a novela rasca venezuelana, até parece que a minha vida é uma tristeza só…)
Depois penso que devia ler mais, ler livros melhores e meditar. Mas disse: BASTA. Estou cheia de pensar. O meu mal é pensar demais, até porque 90% das vezes penso mal, tiro ilações erradas e concluo coisas estúpidas). E mais a mais: que mal têm os livros “light”?

E o que é isso de livros light? Para dureza já nos basta a vida (lá está: falo como se a minha vida fosse uma dureza…), e há é que ler coisas bem dispostas, ou leves, ou verdadeiras, ou tão práticas que poderiam ser reais, tão reais que poderia ser eu a escreve-las.
A estupidez maior é que não sei porque me encontro assim agora.
Está tudo igual na minha vida. Graças a Deus tenho trabalho, tenho perspectivas, tenho saúde, tenho amigos, e até tenho carinha, corpinho e gostinho e algumas viagens na mala, então porquê agora este desânimo?
A coisa é mesmo essa: desânimo, como se não soubesse o que ando aqui a fazer, o que quero da vida e o motivo de tanta insegurança em relação ao meu futuro, como se me sentisse impotente perante tanto mundo, tanta coisa a fazer e nada me motivasse.
É estranho mas é como se eu andasse ansiosa pela minha vida… Faz sentido?
Só espero que isto seja uma fase que passe depressa, porque eu quero mais é “ganas de viver”!

( E não é que me fez bem escrever? Até já me sinto pateta por tudo o que disse – pelo menos “botei” pra fora o que me ia aqui dentro!)

14 comentários:

Vítor Vilar disse...

Não te queria dizer nada que soasse tremendamente convencional. Mas o que te quero dizer é: há pessoas que olham para um donut e só vêm um buraco. Pelo menos tu dás-lhe umas dentadas (no bolinho, assim se perceba) com este post! Um bom dia para ti.

Há salvação, é claro que tem de haver.

Bj,
Vítor

Anónimo disse...

Olá Sinia
Bota para fora tudo, não porque resolva, mas porque alivia...
Quanto ao resto, tudo acaba por fazer sentido, nunca faz é sentido quando nós precisamos que faça.
O teu texto fez sentido!
Um beijo minha querida!
RC

Fortunata Godinho disse...

Ao Vitor,
Será que dou? Será?
E a salvação? "cadê"?

RC,
Bgada ;)

isabel disse...

Desliga o complicador Sónia.

Tem calma, tudo a seu tempo....Outro dia escreveram-me isto:
"A chuva virá em seu tempo próprio.Não se pode forçá-la, deve-se esperá-la (...)A força diante do perigo não se precipita, mas ao contrário é capaz de esperar. (...) A espera não é uma esperança vazia. Possui a certeza interior de alcançar o seu objectivo. Só essa certeza confere a luz unica que conduz ao sucesso. Isso leva à perseverança que traz boa fortuna e prove a força para atravessar a grande àgua"
Achas bonito não achas? Eu seid que sim. Trata-se de uma pessoa que me deu tuo aquilo que quis delE, mas ele ainda não sabe que quis de mim. (nem nunca vai saber cá para nós)

;-) take it easy.....
isabel

Anónimo disse...

Sónia, nada é mais simples do que descobrires que tens que estar bem dentro da tua pele. E, depois, que sera sera.

Susana

Rui disse...

Things get damaged
Things get broken
I thought we'd manage
But words left unspoken
Left us so brittle
There was so little left to give

Angels with silver wings
Shouldn't know suffering
I wish I could take the pain for you

If God has a master plan
That only He understands
I hope it's your eyes He's seeing through

Depeche Mode - Precious

A mim, a música sempre ajudou. Beijo grande.

Fortunata Godinho disse...

Rui,
E eu adoro Depeche!!!
Bgada.

Maria Liberdade disse...

Há alturas em que a nossa vida parece estar em banho maria, mas são fases... fases que na nossa ânsia de querermos que passem às vezes não aproveitamos, pois ao contrário do qu epensas também têm virtudes...

O teu principe e os teus filhos andam aí algures.

Bjs e fica bem.

Fortunata Godinho disse...

À Silvia:
silvia! Gostei tanto do teu comentário! Obrigada pela simaptia. Faz falta ouvir estas coisas.

Fortunata Godinho disse...

A todos:
Meus Queridos, a vocês que se têm identificado com este meu "mal menor", e que me têm tentado ajudar com as vossas palavras de incentivo: Muito obrigada! Mesmo.
Que seja mesmo uma fase e que eu, como disse a silvia, a (ultra)passe mas a aproveite!
Bem hajam!

GNM disse...

Segui o rasto das palavras que deixaste no EXTRANUMERÁRIO e...
cá estou!

O tapete vermelho estará sempre lá para ti.

Escreves muito bem…
Gostei de te ler!

Sorrir!

Sofia disse...

Prontos Pims! Já deitas-te cá pa fora. Tás melhor? Ok entao agora, e como diz um amigo meu, à frenteeeeeeeeeeeeeeeeeee!!!!! Sim?

bjs linda

Anónimo disse...

Sonnée,
Gostei mesmo da analogia da Isabel quanto à chuva e da música do "Rui", porque acho que não vale a pena sofrer por antecipação, tentando prever um futuro, deixando de viver o presente, não forces um sonho... words unspoken daí a tua escrita, nisso tu também és exímia e real/ faz-te bem o desabafo... mas, não sei mesmo que te diga, contudo, considero que não deverás nunca descurar o que te rodeia!
kissios

Alberto Oliveira disse...

As diversas etapas da tua vida, estão sobretudo nas tuas mãos; no teu poder de decisão.
E do outro lado das palavras que aqui deixaste, haverá certamente quem também se interrogue sobre o seu percurso de vida.
Acabará por acontecer o encontro. E para tua memória futura, ficará o texto que escreveste agora.

Bom fim de semana!