21 fevereiro, 2006

Pessoas como nós.

“Pessoas como nós?! Nós jamais seremos simples!”

Há uns tempos atrás um homem que amei disse-me isto.
Na altura, completamente levada pela sensação de “ter” ali alguém que era como eu, achei que aquela fora das frases mais-mais que ouvira, ou ouviria.
Tamanha paixão, tamanho fogo… Mas não.
Nós jamais seremos simples.
Pois é.
Eis a questão.
Não é mais o ser ou não ser – isso é muito simples! Para mim parece que é o ser como nós éramos, como somos, como sou - que é o não se ser simples (tenho de o admitir), é que é a questão.
Mas isto é tão ridiculamente estúpido, que até o mais simples dos seres se riria disto.
E então apetece-me sair daqui, da complexidade da minha vida.
O que é de facto ser-se ou não se ser simples?
Pessoas como nós? Nós jamais seremos simples!
Achei sempre que isso me enlevava, me punha num patamar acima dos restantes, a tal intangibilidade de que alguns já me acusaram.
Isso na época punha-me mais próximo dele e mais longe dos outros, porque nós éramos diferentes de tudo.
Aliás tão diferentes, que inclusive éramos estranhos um ao outro de tão diferentes que afinal éramos, tão diferentes que não poderia obviamente dar certo e acabou, como tudo acaba. Mal.
O que eu quero com tudo isto dizer (e já parece que ando aqui no redemoinho de não saber ser simples – nem a escrever), é que como disse Deus:
- “Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos Céus”. Na mesma dada altura, e a propósito aliás desta mesma citação, surgiu a discussão do Ser Simples X Ser-se Simples e, da incompreensão quanto à frase dos Evangelhos. Ambos concluímos que não poderíamos levar à letra a frase, e soubemos então que se tratava de se ser verdadeiramente simples e não simplesmente um pobre de espírito – em contradição com a negatividade dada hoje em dia à expressão - onde afinal felizes os que são ricos em espírito.
O Ser Simples sabe ser simplesmente simples. Tão simples que não se questiona quando ama, quando não gosta, quando se ri ou quando chora… É tudo tão simples. É nascer e morrer, sem confusão nenhuma.
Mas não agora tudo, tudo, tudo tem de ter uma explicação.

Nada pode ser simplesmente assim tão simples.
A confusão toda está aqui, e aqui jaz. Ninguém pega nela, ninguém a vê e somos todos muito ricos em espírito, tão completamente sabedores e conhecedores de tudo, que nos escapa o mais simples. A mim por ex., escapa-me o Amor. Há tanto tempo, Deus meu.
Pessoas como nós de facto jamais seremos simples, porque se fôssemos teríamos visto a simplicidade das coisas. Aquela relação era tão complexa que jamais poderia ser Amor.

O Amor, quando o é, é a coisa mais simples do mundo.
Será que estou condenada e pessoas como nós jamais seremos simples?

7 comentários:

Sofia disse...

Achas que o amor é simples? De facto devia ser mas entao o que é isto? Que foi que me aconteceu? Nao foi nada simples. Nao seria amor?
Era tudo tão simples se o amor fosse simples....

beijos, gostei muito pims

Maria Liberdade disse...

Acho que não. O simples tb se aprende!

Rui disse...

Sempre me achei uma pessoa nada simples. Se, por fora, sempre o aparentei, por dentro era um tumulto constante - o uso do passado é apenas uma graça.
A certa altura percebi que parte importante desse tumulto tinha a ver com o tumulto em si (não sei se me consigo explicar). Lá devia achar que era diferente, que tinha que mudar, que devia ser como o x ou o y, que eram pessoas simples... e isso só agravava a situação.
Deixei de me preocupar com o que a maioria das pessoas pensa ou é (de todas não, que gosto de saber o que algumas pessoas pensam) e passei a concentrar-me em ser eu, mesmo complicado quando me sentia complicado.
Como até sou boa pessoa, concentrei-me em ser eu.
(comecei a escrever este comentário há meia hora... não estou capaz de o reler; se algo não fizer sentido, aqui ficam as minha desculpas)

Fortunata Godinho disse...

Rui:
Concentrarmo-nos em nós mesmos é das melhores coisas que podemos e devemos fazer. Estou crente contudo, que isso é similar a uma introspecção e como tal demora muito a saber-se fazer.
A parte disto, só não entendi se ainda te achas uma pessoa "nada simples" e se se sim, se pensas em mudar isso - independentemente de concentrares em ti mesmo.

Anónimo disse...

Hello "Miga"!
Confesso também que para mim não é nada fácil ser "simples"... Há bem pouco tempo comentei que felizes são aqueles que vivem de uma forma simples. Isto porque fiz uma caminhada a Drave, uma aldeia que foi habitada até 1946. Li lá uma placa inclusivé que informava que a luz eléctrica e o telefone só chegaram a essa aldeia em 1993. Olha bem o isolamento em que aquela gente vivia... longe de tudo e de todos. Hoje em dia essa aldeia tem uma sede de escuteiros lá mas mantem-se inabitada. Tudo isto para dizer que muito provavelmente essa gente vivia feliz, naquela simplicidade, sem acesso a nada... Dá que pensar, sem dúvida.
Beijinhos da Calaia

Rui disse...

Carissima Fortunata,

Complicado e do Benfica, nasci assim e vai ser até partir. Mudar isso é que nunca, ia obrigar-me a gastar muita energia e a perder muito tempo. Vai-se mudando uma coisita aqui, outra ali e seguindo em frente.

Anónimo disse...

Tu não és nem gostas de ser simplesmente "simples", e ainda bem.
O teu problema é questionar o óbvio, complicar o básico.
O AMOR nem é simples nem complexo, simplemente não se explica sente-se, para quê complicar.
Fazes muitos filmes, és péssima realizadora, mas tens outros talentos, gostei do que li continua...
Bjs
Ju