15 maio, 2006

Põe a mão na mão do teu Senhor

No sábado tive um casamento. Mais uma amiga casada,
mais uma festa…
A grande diferença deste casamento, foi o Padre.
O Pe.
Zé Manel, foi de facto a grande e agradável surpresa do evento.
Quando os
noivos me disseram que o Pe. que os iria casar era o máximo,
completamente
diferente de todos os que haviam conhecido, eu achei
que era mais um
comentário semelhante a outros de outros noivos que
também achavam que
aquele Padre “é que é”…
Mas, quando deixaram escapar que este Pe. de 36 anos
lhes disse que
faria a confissão enquanto caminhassem nos jardins de
Serralves,
“que é muito mais agradável”, que sempre que o tentavam contactar
ligavam para o telemóvel e ele por vezes estava no Ginásio, que ele lhes
contara que já fizera muitas viagens com os paroquianos, mas que
normalmente iam para fora como até ao Brasil…
Comecei a achar que
realmente este Padre era mesmo diferente.
Tão diferente que este Pe., apesar
de não haver uma amizade por trás,
foi de imediato convidado para a Boda –
convite ao qual prontamente acedeu
- “aliás, não espera eu outra coisa,
porque é o melhor da cerimónia…”
Chegados à Igreja numa soalheira tarde de
Sábado, estava numa ânsia de
ver e ouvir o Padre. E confesso que gostei da
Missa, da Homilia e das p
alavras sinceras do representante de Deus. Um
Padre jovem,
bem intencionado, simpático que conquistou todos na Igreja. Sim
senhor!
A cena mais inacreditável, foi quando já na Boda, alguém me disse:
“Então? Já topaste o Padre Zé Manel?”
Eu não o via, só conseguia
vislumbrar homens de fato bem aprumados,
jovens de Jeans e alguns rapazes
muito fashion. - “Tá ali, de gravata Rosa
a beber Gin”. Bem: quando eu olho
e vejo um homem, até bem parecido,
very In, sorridente e perfeitamente
ambientado, de óculos sol Ray Ban
escuros, a beber Gin misturado com os
convidados, passei-me. Sabia já
de antemão que ele era um Padre diferente,
mas nunca me passou pela
cabeça que poderia estar fora da Igreja, numa festa
sem o colarinho à Padre,
e ainda por cima, tão bem arranjado a beber álcool
e com um
look Martini Man???? Meu Deus, a minha Alma estava Pasma!
Se
não me tivessem dito que era ele, eu não o teria reconhecido.
Obviamente me
auto chacinei dizendo-me que todos os Padres comem e
bebem e confraternizam,
mas ainda assim eu estava incrédula!
A certa altura da noite comentei com um
amigo meu, que gostaria de saber
o que levaria um jovem “normal” a optar
pelo sacerdócio…
“Gostava de falar com ele”, disse eu, e isto foi o
suficiente, para que minutos
depois o meu amigo estivesse a dizer ao Pe. Zé
Manel que eu tinha
uma perguntinha… Fiquei TÃO embaraçada, que não fui capaz
sequer de
o olhar, e apesar das insistências do Sr. Padre “Diga lá, então!
Então? “
eu não conseguia… E este meu embaraço ainda me embaraçou mais –
logo
eu que não sou nada dessas coisas, mas literalmente fiquei sem
palavras!
Como eu não consegui, o meu amigo fê-la por mim: “ Ela estava a
perguntar-se o motivo que o levou a escolher ser Padre.” – “Ora bem, eu
entrei para o seminário com 13 anos. A minha realidade foi esta desde cedo.
Todas as privações porque passei - não brincar, não jogar à bola, e
principalmente
não ir para a Praia, sendo eu de Porto Moniz que é a única
praia natural que
há na Madeira, era de facto complicado, e muita vezes me
questiono do porquê
do senhor me ter escolhido a mim, quando há com certeza
tanta gente com mais
vocação e que se calhar até faria um melhor trabalho
que eu…” Mediante esta
admissão e a vontade de conversar demonstrada, lá me
atrevi: “ Eu até sou
católica, e até sou crente, mas acho que só não sou
mais praticante, porque
há de facto coisas na Igreja Católica que me deixam
atónita, como as mulheres
não poderem dar Missa, o aborto, a
homossexualidade, os divórcios…
e agora o Bento XVI – admito que foi assim
que me saiu, mas já não fui
a tempo de corrigir para o «Sr. Papa», vem ainda
falar dos Jornais,
TV e Internet??? ” Nesta fase o Pe. Zé Manel já estava
com uma expressão
de quem já estava mesmo à espera daquilo, e respondeu-me
com simplicidade:
“Claro que há coisas que não estão bem, mas também é claro
que a comunicação
social exagera e deturpa muito as coisas, de qualquer modo
o que lhe posso
dizer é que se calhar faço mais falta lá dentro que cá fora,
temos de lutar
devagarinho para mudara as coisas! As mentalidades são
outras, os meus
orientadores também pensam de maneira diferente de mim, mas
é assim
mesmo, aos poucos lá havemos de conseguir alterar algumas coisas.”
O meu amigo ainda continuou indagando-o acerca do facto de ser 13 Maio
e
ele estar ali, em vez de em Fátima…“Já lá estive noutras ocasiões, hoje
estou bem aqui.” Sorri mediante a sua resposta e dei comigo a pensar
que
gostaria de ter assim um Padre na minha Paróquia.
Mas o melhor ainda estava
por vir…
Alguém se atreveu a contar uma anedota no Micro acerca de um Padre
que dava “umas por fora” no próprio confessionário e a reacção das pessoas
a medo foi quase não rir e ouviu-se mais uns “aaaahhhhhhh!!!!!!!” do que as
habituais gargalhadas, mas o Pe. Zé Manel não se deixou ficar, nem tampouco
se intimidou e entrando no esquema disse tão somente que nunca dava
confissão
no confessionário!!!! A festa lá seguiu tendo o Sr. Padre
conquistado toda a
gente e não é que já madrugada longe, o Sr. Padre dançava
e dançava e
dançava, e volta e meia lá bebia mais um Gin… E todos nós éramos
caras
pasmadas. A certa altura alguém decidiu provoca-lo um bocadinho mais,
e
dedicou uma música ao Pe. Zé Manel. Ele sorriu e agradeceu e começa-se a
ouvir uma música religiosa cuja letra é algo do género: «Põe a mão na mão
do teu Senhor, que acalma o mar, põe a mão na mão do teu Senhor, terra
inteira»…
A reacção foi tremenda, de tal forma que ele ficou tão
desconsolado com a
dedicatória, que fez mesmo cara de desdém, mas lá a
dançou e a cantou…
Acho que aqui foi a altura de deixar o Sr. Padre em paz,
ficando na sua a curtir
o restinho da festa e a sorrir, sempre a sorrir.
Eu devo-vos dizer, que é mesmo disto que a Igreja precisa:
Sangue novo,
força de vontade, e uma mentalidade muito diferente.
Quiçá as coisas não
começam a mudar?
Eram 5:00 da manhã quando me despedi dele com dois
beijinhos “
…e muito prazer, mesmo!”


7 comentários:

Sofia disse...

Pims!

Vejo que te divertiste muito no casamento e ainda bem. Adorei o teu post e de facto é desses padres assim que todos nós precisavamos. Tal como ele disse "devagarinho" lá chegaremos.

Bjs pa ti

Rui disse...

Fazem tanta falta à igreja mais Zé Maneis.

Anónimo disse...

Realmente, sim senhor!!! É sem dúvida um Padre Amaro do nosso século...eheheheh
Mas felizmente que há estes Padres, a Igreja bem precisa, tem de mudar, de arranjar forma de chegar mais perto das pessoas...
"Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", há que admiti-lo! Ainda bem que conheceste um Padre assim, é bom sinal!
Beijocas linda e até breve, Calaia

Anónimo disse...

Ora muitos parabens...conheceu o nosso padre José Manuel...
sim...um tio avô babado...encantador...com um sentido de humor que nem vos conto... ( e sei do que falo)...muitas vezes as "nossas ideias feitas" não nos deixam ver que as coisas mudaram...e muito...ainda estamos na fase do "sr. abade lá da terra que mandava em tudo e em todos"...pena...da nossa parte bem tentamos mostrar um outro rosto de Igreja...mas se até o assobiar já parece mal ( principalmente aos leigos...aos quais peço desculpa pela minha alegria ...)...imaginem..quando se derem conta que ali mesmo ao ladinho deles no mesmo café ou festa está um homem...que em determinado momento da sua vida se encontrou com a absoluta necessidade de experimentar... Deus na sua vida...na intimidade..na obsoluta intimidade...

Fortunata Godinho disse...

Ao "anónimo",
Obrigada pelo comentário e por vior aqui, ler "estas coisas" que escrevo...
Agradeço os Parabéns, mas fico pensativa com o comentário... O Pe Zé Manel é um Tio-Avô babado??? Estaremos a falar da mesma pessoa?
Se puder, e quiser, identificar o seu comentário agradeço.

Anónimo disse...

Ola...poix sinto muito...o não me ter identificado...sou frade como o Fr. Jose Manuel ( o tal padre Ze)... e sim...estamos a falar da mesma pessoa... à qual desde já peço desculpa pelo comentario tão pessoal...mas pronto...já está...
Quanto ao comentario...agradou-me muito...no fundo é mesmo essa a postura na qual estamos a apostar...não smos extraterrestes...embora na cabeça de algumas pessoas a imagem do frade ou padre ainda seja aquela que encontramos no livro"O nome da rosa"...
bem...falta so o meu nome...
Bruno...e pronto...

Fortunata Godinho disse...

Pois muito bem Sr. Frade Bruno,
Agradeço o comentário e fico muito feliz por saber que gostou, que não o acharam "desapropriado".
Vá aparecendo por aqui.
Às vezes vou "postando" algumas das minhas dúvidas e quem sabe se não me ajudarão a ver a vida de outra forma...
É sempre bom saber que Deus está por perto.
Obrigada, mais uma vez.