A vida é um repente.
Dizer isto deveria fazer-me abrir os olhos e não fecha-los.
Mas não. Só me apetece fazer de conta que não…
Eu não sei lidar com a Morte. Não sei.
Não entendo, não aceito e não me conformo.
Tudo passa, mas a morte não passa. Nem passa ao lado.
O que pode passar é a dor. A dor de quem cá fica.
Escrevo isto, ao fim de quase um mês sem publicar nada; não fazia parte dos meus planos publicar algo deste género, mas faço-o porque hoje me apeteceu. Este assentimento incomoda-me muito e, à medida que os anos passam, eu deveria ir começando a absorver isto melhor, mas cada vez “me” morrem mais conhecidos e amigos e familiares, e eu cada vez sinto mais e cada vez entendo menos.
Já me morreu uma pessoa MUITO chegada, nomeei-a o meu Anjo da Guarda – e acredito, acreditem. E ela é-o. Sinto-o... Mas quando penso nisso, desacredito-me de tudo e acho-me completamente estúpida, e burra e ignorante, não inocente – isso não. Ignorante mesmo. Porque sei que não sei nada. Não sei de nada e sou um nada. Somos um Nada. A vida escapa-nos num segundo e nós deixamos todos os segundos nos escaparem por entre os dedos.
Sinto-me tão mesquinha, tão mal e tão estúpida ao aperceber-me disto e nada fazer. É como se ficasse igualmente impotente, perante tamanha soberania…
Por exemplo: hoje soubemos no trabalho que tinha falecido um colega. Tudo em estado de choque. Assim, de repente. Porquê? Como? COMO?
Tudo andou a girar em torno disto toda a santa manhã, mas logo o mais feio do que temos cá dentro, vem ao de cima, porque em todos os momentos, somos mesquinho e maus e feios. Estamos todos em estado de choque, mas num ápice a surge a cusquice de quem vai ao funeral, de quem leva flores, de quem é mais chegado, de quem dá a notícia…
É ridículo!
O meu Director está de Férias, depressa me indaguei se deveria avisar ou não. e não soube mesmo o que fazer.
Logo surgem 1000 opiniões, de que não se deveria ter feito isso, que se deveria ter feito aquilo… E discute-se. Porque o Ser Humano, é tão humano (porque só o Homem é assim) e tão ridiculamente convencido e mesquinho que tem necessidade de intervir. Para nada. Isto não tem remédio. Ou terá?
Mas nós não sabemos nada.
É horrível!
Sinto-me horrível, porque não escapo aos comentários, porque me deixo levar por eles, e porque os faço também.
Porque também julguei outros quando estava eu de férias e o meu agora Anjo da Guarda faleceu, e ninguém me disse e eu só soube quando voltei.
E julguei-me má e feia e mesquinha, porque me divertia, enquanto outros choravam. Porque as minhas lágrimas vieram tarde. E choro porque digo isto, sabendo que mesmo que eu cá estivesse nada mudaria. As minhas tão importantes lágrimas, não diminuem a Morte, nem eu sou afinal assim tão importante…
É tudo tão fugaz.
É tudo tão estranho, que não sei porque não atinamos todos da cabecinha e nos deixamos de tretas. Sim, porque tudo isto são tretas. Conversas da treta. Mesmo esta que agora tenho convosco.
Há alguém que me explique por favor, não como se eu fora uma criança de 2 anos – porque aí tudo se entende melhor, mas que me explique devagarinho a ver se eu entendo, como é que a Morte acontece. Porquê?
Eu sou Católica, e crente e até tenho Fé, mas não pratico. Ou pratico muito pouco. Será por isso? Mas pronto, acredito.
Posto isto, tudo acerca do Fim me deveria acalmar. Mas não. Sinto um medo, um pânico, um nó na cabeça e um aperto no coração. E só me vem à cabeça a palavra solidão e então tenho um medo pavoroso - por quem vai e por mim, que cá fico.
Porquê?
Porque raciocino - lá está, penso logo existo.
Mas não percebo nada.
Acho que nem o Descartes percebia…
Então a lógica começa a funcionar e penso, que não é possível haver a vida depois da Morte, nem o Destino (em que eu também creio), nem mesmo a reencarnação – que apesar de ir contra os ensinamentos Católicos, também me levam a acreditar), e então penso: Para quê? Como? Não faz sentido. Não tem cabimento nenhum. Como se acaba assim? TEM de haver um motivo.
Será Deus?
27 março, 2006
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14 comentários:
Ainda à pouco num dos comentarios ao meu ultimo post me disseram "Ninguem nos prepara para isto!" a propósito daquelas coisas que nos vão acontecendo na vida e nos deixam assim:sozinhos (ou pelo menos sentido-nos mais sós).
Ainda hoje quando ouvi a noticia de mais uma morte estupida de um miudo de 20 e tal anos, segurança de uma discoteca no Porto que se meteu ao barulho com outro pensei, esta vida agora parece nao valer nada, mata-se por tudo ou por nada.
Nao procures os motivos da morte, mesmo que existam nunca os conseguirás aceitar como tal. Porque creio, que nao havendo forma de remedia-la nada mais interessa.
Procura sim a forma de viveres cada vez melhor, mais intensamente, todos os dias, horas, minutos e segundos. Com todos os que amas e que te amam.Aproveitando tudo e todos ao maximo.
Nao sei se ajudei, mas acredita nao interessam os porquês da morte.
beijos pims
Primeiro: obrigado pela visita ao meu blog.
Segundo: parabéns pelo teu blog.
Terceiro: Eu não vou terminar o blog. Vou sair de casa! de casa mesmo!! :)
Quarto: em relação ao teu post: respostas, acho que todos procuramos. Já me pus a pensar nesse assunto que acabaste de descrever e concluí que é apenas nesse ponto que diferem as religiôes (sejamos francos, todos advogam paz, respeito, compaixão...) mas todas diferem na origem e destino do homem e da sua vida. Pessoalmente, eu estou satisfeito com aquilo em que acredito!! E sim, também sou da opinião que a crueldade e pequenez do nosso pensamento, tantas vezes arrasta-nos para turbilhões de infelicidade...
Beijo!!!
Mais uma pergunta, posso linkar-te? Gosto mesmo muito daquilo que escreves...
Claro que me podes "linkar".
Fico contente por gostares, apesar de este ser uma coisa tão triste.
Sinto-me tão mal hoje.
Let's drop it.
Não sou pessoa de Fé, não acredito em Deus. Essa ajuda não tenho.
Acho que só temos esta chance de cá andar, que quando acabar, acabou.
Acho, também, que viver com medo, assustado, é viver menos, é perder tempo. E o tempo é escasso.
tic, tac, tic, tac...
De bolg em blog entrei no teu.
è o que tem de bom a blogosfera. Entramos sempre sem pedir.
O teu texto tocou bem cá dentro. Também eu tenho dificuldades sérias em lidar com a morte. E já lá tenho 3 anjos bem queridos a velar por mim.
Já nem a escrita sai...
Vou voltar mais tarde.
Um bom dia para ti.
Eva
Ao Rui,
Também não sei nada. Mas tenho muitas dúvidas. Tem de haver mais.
Só não gosto, nem entendo este medo. E é isso que mais me aflige.
Agora, concordo contigo: Tic tac Tic Tac... E eu aqui a sentir coisas que não sinto...
Bj
À Eva,
Não quero melindra ninguém, e muito menos deixar as pessoas tristes. Fico feliz por saber que Acreditas que tens dois Anjos da Guarda. Eu tenho receio de deixar de crer nisso, mas não posso pois não? No fundo, como me disse o Rui, pelo memos contamos com esta ajuda - a da Fé. Só espero que cresça e não diminua.
Obrigada por teres vindo aqui.
Ola Miguita! Como prometido cá vim eu ao teu blog e mais uma vez tenho de dizer que concordo contigo e sinto a mesma ansiedade e medo em relação à morte. Senti isso ainda mais forte quando o meu pai ficou seriamente doente há 2 anos atrás, diagnóstico - cancro!!!! Essa palavra que tanta gente tem medo também de dizer. A verdade é que levei um verdadeiro abanão psicológico! Hoje vivo e aprecio muito mais todos os momentos que vivo com aqueles que mais amo, seja família, namorado, amigos, etc! Por isso hoje sou muito mais selectiva com tudo o que escolho para a minha vida e o "meu mundo", perdoem-me o termo. Minha linda agarra-te a tudo o que te faz feliz e usa e abusa da minha amizade!
Um grande xi, Calaia
Calaia,
Espero de coração que sejas feliz e conto para que o Zé te saiba merecer. Acho muito bem que escolhas todos os momentos e as pessoas com quem os passas. Fico feliz por me encontrar algures no meio deles... O que aconteceu ao teu Pai, só demonstra como algumas pessoas sabem viver e continuar. Tu estás bem e o teu Pai também tem conseguiudo dar a volta. Isso conta MUITO!
Eu é que sou a tosca e não tu.
um Xi Linda.
Nunca me preocupei com a morte, pelo menos nunca me preocupei com a minha morte, sempre me considerei preparado para ela, venha quando vier, mas a morte dos que me rodeiam deixa-me arrasado. Nunca soube lidar com isso e durante a maior parte da minha vida nem a funerais ia, era demasiado forte, pesado e constrangedor comparecer, eu posso-me despedir de quem quiser na minha cabeça, sem uma manifestação pública de pesar. Alguns sentimentos se cruzam, um sentimento de injustiça “caramba, era tão novo” ou “depois de tudo o que passou, agora estava tão bem e…”um sentimento de ingratidão para com uma qualquer força seja ela o Deus que nós católicos acreditamos ou seja lá o que for “era tão boa pessoa, porque raios só acontece aos bons?”, mas sobretudo um sentimento de perda “e agora, aquém vou recorrer, fazes-me tanta falta…” esse sentimento e o sentimento de desamparo é que é mais complicado. Mas fica a crença! A crença de que aqueles que partiram, partiram para algo melhor, uma crença que no entanto deve ser controlada, para que não sejamos demasiado apressados a querer partir para o outro lado, a nossa vez chegará, feliz ou infelizmente, sei lá!
Entendo-te Sinia
Beijinhos
RC
Rui,
Não sabia que sabias do meu Blogsito...
Obrigada por me teres vindo visitar e agradeço também as palavras.
Sinia, eu estou sempre por perto, apesar de ausente…
Beijinhos e parabéns pelo blog
RC
Alice!
Sê muito bemvinda ao regresso e às minhas coisitas também!
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