28 agosto, 2008

Diário de uma viagem de sonho

Dia 0

Cansaço, Olheiras, Dores musculares e Fome. Era este o estado físico com que chegámos ao Aeroporto de Porto Seguro. Mas considerando, que íamos a caminho das tão ansiadas férias, nem mesmo o facto de termos voado 7 horas com as orelhas coladas aos joelhos impediu o bom humor na espera durante mais de 2 horas pelos passaportes, bagagens e finalmente os transferes. A expectativa começou a melhorar assim que entrámos na Pousada cujo nome logo inspirou: Beija Mar.
Só que estar lá, foi ainda imensamente melhor – Passadiços em serpentina sobre a água, muita vegetação tropical, e de facto o nome fazia-lhe jus: A água do Mar estava de lábios colados com a água da piscina.

Depois de um jantar rápido, e ainda de uma pequena partida de “Sinuca” – onde não importa o facto do resultado ter sido 2-0, deitamo-nos numa cama coberta com um pequeno mosquiteiro, e adormecemos exaustos, embalados pelo som das ondas.

Dia 1

Corremos cama fora para ver se era verdade – às 7:30 da manhã o Sol furava as cortinas, e de facto havia justificação para o calor no quarto – estava tempo de Verão, já havia gente na Praia, apesar de lá ser o pino do Inverno...
Depois de um pequeno-almoço relaxado, ao som de um Papagaio que só Palrava, lá fomos nós ter com a Maria, que reuniu na Pousada Canto d’Alvorada, todos os Portugueses chegados no dia anterior, para 2 horas de Xaropada sobre os nãos: “Não Beba água da torneira, não ande por sítios isolados, não exponha bens, não compre comida na Praia, e não alugue Carro”... Esta última frase foi a que nos deixou mais desanimados porque parte do plano inicial era precisamente o aluguer de um Buggy.
No entanto, logo nos apercebemos que interesses mais altos se levantavam: “Quer comprar a excursão à Praia do Espelho? Quer comprar a visita à Aldeia dos Índios Pataxó? Quer conhecer uma fazenda com muito divertimento? Se pegar os 3 passeios são apenas 100€. Olha que é barato – Se paga aluguel do carro mais o seguro, são 120 Reais por dia, mais 50 só pró estacionamento, e se juntar as Balsas, o combustível e a entrada nos locais, vai ver que vindo com a gente, é bem mais econômico”...
Bom, decidimos aflorar o assunto posteriormente e deixarmos esta decisão - óbvia, para depois do Banho de mar, das Caipirinhas na Areia e de uma reconfortante Rede, entregamo-nos à leitura com os olhos postos ora no Mar ora nos livros: As intrigas intemporais do Eça de Queirós e o novíssimo romance da Margarida Rebelo Pinto.
E para nenhum de nós perder pitada de nada, descobrimos um novo prazer – ler para o outro em voz alta (e com isto acabámos por ler 4 livros numa semana!!)

Depois de um almoço tardio, deparámo-nos então com um novo facto: às 4 da tarde a praia enche-se das sombras das palmeiras, de um sol que se põe às 5 horas, e meia hora depois já é noite escura...
Fomos a pé, pela praia, até à nossa Pousada e depois de um Mojito bebido nas camas da piscina, fomos a um revigorante banho e já com a roupinha lavada, tomámos o ônibus para o centro de Arraial d’Ajuda – até nisto tivemos sorte: era “a Semana da Santa”- dia 15 é o dia da Nossa Senhora d’Ajuda e já só faltavam 5 dias.

O Centro do Arraial, resume-se à “Brodway” e ao “Mucugê” – a Maria tinha explicado: “A Brodway é a América onde tudo é mais baratinho. O Mucugê é a Europa, onde tudo é mais caro.” Sendo Europa ou América, o Mucugê batia aos pontos a Brodway – que tudo o que possuía era uma rua estreita com algumas lojas típicas e no final a praça da igreja – onde se celebrava a Missa do dia dos Pais. Já o Mucugê, era tudo alegria e clima de férias: bom ambiente, bons restaurantes, boas compras.

Entramos no Beco das Cores, e logo ali nos apaixonámos por aquele lugar. Espectacular: música ao vivo, luzes cintilantes e gente bacana. Jantámos uma fantástica Pizza em forno a lenha no Pitanga – um restaurante simpático com musiquinha ao violão e um ambiente muito acolhedor. E depois de um pequeno passeio a pé, fomos ver dançar o Forró, na Praça do Shopping d’Ajuda.
Regressámos novamente num Ônibus cheio de elementos da Orquestra, e quando nos deitámos perto da meia-noite, sorrimos um para o outro e dissemos felizes: isto promete!


Dia 2

Mário. 65 anos de idade. Nascido Português, residente no Brasil há 27 anos. 9 filhos de 5 mulheres diferentes: 1 Sueco, 2 Espanhóis, 4 Portugueses, 2 Brasileiros. “Mas o meu Xódó é a minha mais nova…” Viúvo por duas vezes já. "E actualmente?” - Perguntámos nós. ”…Uma Néguinha de 29 anos, que já tá querendo um filho! - Eu não tô doente, né?"
Este ser fabuloso, contador de boas histórias, e ainda muito Patriota e Sportinguista, conforme o demonstra na sua Creperia no Bêco das Cores, acumula ainda as funções de Gerente da Pousada onde nos instalámos. E isso, foi o nosso grande "furo". Através dele, e conforme suspeitas já mencionadas, alugámos um carro na Locadora "Iô-Iô", que ficou por menos de €100 - já com seguro, por 3 dias de aluguel eles oferecem o 4º - e ainda te pegam no hotel. Ele nos indicou os sítios onde deveríamos ir, e em que altura - porque a Praia do Espelho, só vale a pena, se a apanharmos com a Maré Baixa, para se verem os Corais. E posto isto, estava definitivamente dado o pontapé de saída, para sítios PARADISÍACOS...
Arrancámos rumo ao Norte – Praia do Guaiu “E vocês vão lá na Maria Nilza, que é uma Nega Enxuta, que tem já a minha idade, mas tá ali nos trinques. Uma mulher fabulosa, foi a minha 1ª namorada quando cheguei cá! Vocês vão lá e falam que fui eu quem mandou.” E a gente foi, né? E foi uma coisa! Chegamos a um sitio cheio de vegetação, sem electricidade, onde tudo é feito a Lenha…


Lá vimos o nosso 1º Siri - bem ali aos nossos pés, e usámos uma casa de banho digna de uma revista de decoração – ao ar livre, com chão de areia e paredes de cana.


Recebemos abraços quando chegámos e quando partimos… Ao todo deviam estar mais umas 6 pessoas na Praia. À Sombra de um Guarda Sol de colmo, deitados numas cadeiras reclináveis de costas pró Mar (porque lá o sol está do outro lado, né?), mandámos vir um vinhosinho Rose e pegámos na leitura… tomámos banho na foz do rio, porque ali, naquelas zonas, todas as praias têm um rio a entrar mar a dentro para quem se quiser deleitar, e nós quisemos! Tal como também quisemos dar a nossa 1ª Escapadinha e descobrimos partes desertas para o nosso deleite e, no final ainda mandámos vir pasteis de Siri e de Queijo – tããão bons, e almoçámos uns petiscos enquanto acabávamos o vinho. E ficámos a ouvir o mar mais um pouquinho, porque como a própria disse: “Não há orquestra como essa? Há?”
Na altura de pagarmos, veio um problema - sem dinheiro e sem electricidade, como é que íamos pagar? “Não faz mal, vocês voltam!” E quando saímos, dissemos-lhe que ainda que não ficasse o almoço fiado, nós gostámos tanto de estar ali, que voltaríamos na mesma, e ela disse: “Eu sei que sim!” Sorrimos, demos as mãos e seguimos para a balsa de regresso… “Hum… Que prainha boa, meu Xódó!”

À noite decidimos ir ao Pampas, muito bom aspecto, muito bom atendimento, mas a comida deixou a desejar – trocaram os nossos pedidos de bem passado versus mal passado e serviram-nos um vinho tinto, bem geladinho… “Salvou a noite”, uma ida ao Billy Cabeças – no Bêco das Cores, onde além da ex-ce-len-te música ao vivo, com boa voz, guitarra, violão e saxofone, podemos apreciar um pedido de casamento ao vivo, enunciado pelo vocalista e protagonizado por dois clientes… Teve direito a anel de noivado e tudo! Lindo! Nada como um bom romance, para inspirar uma noite de amor – e mais uma vez fomos dormir com um sorriso na boca.


Dia 03

Rumámos a caminho do Rio da Barra, para depois ficarmos já a caminho do tão falado e aconselhado vilarejo de Trancoso.
Dar com a “entrada” para o rio da Barra, não foi fácil não! Voltámos ao mesmo sitio a pedir informações 3 vezes, e na última acabamos por ficar… E ainda bem. Acho que as fotos dizem tudo, não é… Chegar neste tipo de Paraíso, não é uma simples tarefa nem tão pouco uma tarefa simples: Há que descobrir como lá chegar e há aventurarmo-nos na travessia ... Mas, todas as (en)traves passadas, lá pusemos o pé no chão e de facto estavamos extasiados - Que sitio inacreditável! Que paz! Almoçámos na Praia, e quando a sombra das Palmeiras se aproximou, fomos enroscar-nos numa cama de rede e ali ficamos a embalar a Paz de espírito, por cima de uma toca de Siri gigante.


Quando arrancámos para Trancoso, íamos tão pachorrentos, que não nos apetecia fazer nada e isso influenciou um pouco a visita. Admitamos que à chegada, a 1ª impressão não foi de grande entusiasmo, mas de facto aquele sitio tem qualquer coisa de encantador… Apesar de como disse, o Geraldo Casado (a conhecer mais adiante): “Mais que 2 dias em Trancoso, vira depressão…”.

Trancoso é místico! É diferente do resto dos sítios, apesar de estar ali no meio do nada, está repleto de tipos e tipas de fora, decididamente Europeus e com o ar dos Hippies em Wood Stock… Vendem colares e apetrechos de artesanato, fumam umas coisas e usam rastas enormes fazendo vã glória aos Dread Locks estrangeiros… Mas vão bem no ambiente local. Esse é um conjunto de casinhas pequeninas e térreas, com cores fortes e quentes, todas geminadas numa irmandade perto da centena. Os restaurantes, têm uma ar boémio, com esplanadas e luzes foscas penduradas nas árvores, que nos atraem a sentar… O silencio é quase absoluto e as lojas têm nomes como “Ave Maria” e “Cheia de Graças” – e nesta havia um painel enorme onde se lia: «Já te disse que te Amo hoje?» Uma coisa!


O centro de Trancoso – Chamado de Quadrado, é mais um rectângulo, mas é mesmo só aquilo: uma vista fabulosa, um campo de futebol improvisado (é engraçado, mas em todas as terriolas onde fomos, sempre há um), uma pequena Capela e mais nada. Quer dizer mais nada, não. Há o El Gordo…
Meus Deus, quando entramos no El Gordo – aconselhado pelo centro de informações turísticas local (todas as excursões passam por lá…), o sol já se estava a pôr. Aquela visão, ao som de uma Bossa Nova – bem lá no fundo, a alvura do branco, a decoração, o atendimento, o horizonte… Apertamos os dedos um do outro… “Que é isto?”
Mas isso fica para explicar mais à frente, porque ficámos tanto ou tão pouco impressionados que tivemos de voltar.

No regresso apanhámos a nossa primeira “pancadinha”… Não foi muito forte, mas o suficiente para demorar a condução numa hora de regresso… Depois de um banho para aquecer, lá fomos mais uma vez para o Mucugê e optámos por uma carninha Argentina no giríssimo:”Boi nos Aires” – Recomenda-se também. Chegados ao nosso poiso, lá fomos a mais uma partida de Sinuca para voltarmos a um encantador 3 – 1…


Dia 04

Regressar à Maria Nilza, não foi um Déjà vu. Mais um renovar de energias – aquela mulher é uma força da natureza. Inspira e transpira tranquilidade, e isso não se compra. Ou se tem, ou se não tem.
E por falar em ter, o que Cabrália tem, é o maior Santo António do Mundo – 17 metros de altura, numa fazenda singular, com uma vista bem para lá do mar.
Cabrália também tem o peso da primeira missa celebrada nas terras de Vera Cruz – marco do início da evangelização daquele povo Índio – maioritariamente Pataxó.

A seca que apanhámos na balsa, deu para um joguinho de Damas no boteco da entrada – que ficou pronto, como direi: 2 – 0…
Mas nem por isso perdemos a imaginação e face ao facto de termos decidido nessa noite conduzir uma hora para jantar no El Gordo, um belo bacalhauzinho à Brás (O dono é Lisboeta…), pensámos em como seria maravilhoso perder a cabeça e o amor ao dinheiro e em vez de ir lá só pela janta, ficar a dormir para aproveitar e desfrutar de tudo em todo. Em pleno. E se bem pensámos, melhor o fizemos, o sorriso nas nossas carinhas era de antecipação pelo que havia de vir. E em menos de 2 horas estávamos no paraíso!
O El Gordo, acumula as funções de Hotel e de Restaurante. Não sabemos quantas estrelas ele tem, mas para nós teve quase tantas, como as 1001 Eterane no deserto de Marrocos, porque também aquela noite foi linda, calma e inesquecível. Os quartos são de uma limpeza quase imaculada. É tudo muito branco, muito asseado… A cama gigante tem um mosquiteiro todo envolto em si mesmo, a casa de banho é toda em pedra e os produtos são da Rituals(…), o quarto possui um plasma enorme, com DVD, e um cardápio de músicas e filmes à escolha – que prescindimos. A varanda avista o mar e as escarpas. O restaurante fica às margens da piscina. A piscina essa, está de barriga para cima a olhar para o mar, e os candeeiros flutuantes iluminam-lhe a água parada e o grande alabastro no tecto, de um estudado recanto, reflecte a luz e a água nas nossas caras… o Vinho é do bom, e a comida de profissionais. O encanto foi tal, que pela vez se mudou o resultado do jogo e desta feita à Bisca, ficámos por 3 – 7.
Irmos para a cama, ali naquele sítio, foi quase um ritual e não fora o raio das cinco melgas dentro do mosquiteiro (não entendemos como entraram para lá), teríamos tido uma noite celestial.


Dia 05

Despertámos às sete da manhã ao som dos passarinhos, com os raios de sol a furar as frinchas dos estores de madeira. Abrimos as portadas e ficámos deitados, na ronha, a contemplar a suave brisa da manhã e a absorver a natureza lá fora, através do ténue filtro do tule. Sem palavras!

O pequeno-almoço no El Gordo, faz também jus ao nome. Satisfeitos, ainda houve tempo para um mergulho na piscina e uma vistoria às escarpas e aos recantos da vegetação. Saímos dali com a alma lavada, frescos, felizes e atrasados para a ansiada Baixa-Mar na praia do Espelho.
E pronto, o atraso foi de tal forma – porque nisto somos como em tudo na vida, ou se é ou se não é, que quando lá chegamos a Maré já estava a subir e os Corais, o tal espelho, a transparência daquelas águas, deixou de se ver… Mas também ficámos com um imprescindível motivo para um futuro regresso… Aliás, aquele acabou por ser o nosso melhor dia de praia, em termos de bom tempo, banhos de sol e mergulhos no mar. E sabem que mais, conhecemos, falámos e comprámos colares a um Índio Pataxó, que vinha andando fazia 5 horas: “São 18 Km para cá e 18 Km para lá. Nós vimos andando pelas praias e vimos vendendo nosso artesanato!” e nós gostámos tanto das suas peças que comprámos cinco colares, e ele acabou oferecendo mais um, agradecido que estava, e nós acabamos por ficar com o melhor sem termos de pagar a excursão para ver o que todos os turistas invariavelmente vêem. Tivemos um Pataxó ali, só para nós! Na volta ainda parámos numa aldeia protegida de Índios – Imbiriba e lá comprámos mais umas coisinhas – demais!

O trajecto de regresso, foi por sítios bem diferentes do normal por aquelas bandas – vimos fazendas e mais fazendas, planícies infinitas ao por sol, e vimos cavalos a pastar e, bois a refrescarem-se em riachos qual hipopótamos em dia de calor…

Já ao chegar à nossa pousada, finalmente dirigimo-nos à tão falada galeria – Arraial D’Arte, e o que encontrámos foi arte em diversas formas – além dos quadros, houve a arte de bem receber, bem falar e bem cativar e ali ficámos presos, ao Geraldo Casado e à sua mulher, Teresinha, e ainda ao sorriso inocente do Felipe – o netinho de 3 meses.
O Geraldo Casado aproximou-se de nós com um sorriso na boca e cativou-nos logo. Apertou-nos a mão com a confiança de quem gosta de receber e abriu-se para nós, na visita ao espaço, na obra, na técnica e na vida. Ficámos maravilhados com o estilo original que desenvolveu para fazer retratos, que são verdadeiras obras de arte dignas de um Van Gogh contemporâneo. Pintados a óleo com um espátula carregada de emoção, que deixa atrás de si o relevo dos movimentos do artista. Primeiro somos “agarrados” pela expressão do olhar – apenas os olhos são reais, depois navegamos por um mar de cores que dão forma ao rosto. E que rostos – vão desde personagens do jet-set brasileiro a pessoas anónimas. Todos os quadros são bons, todos são diferentes e todos são intensos. Cada um deles possui uma personalidade própria que representa a visão que o artista tem de cada retratado. De referir que o Casado não pinta quem não conheceu – “Eu tenho que apanhar a linha do olhar, ver a expressão do olho e as suas cores. E isso só pode ser feito falando com a pessoa, sentindo as suas vibrações...” Tão fascinados ficámos que pela 2ª vez, em 24 horas, perdemos a cabeça e encomendámos um quadro nosso, que só fica pronto três meses depois porque ele só pinta 5 por mês - ele tem de ter tempo para as suas “viagens” introspectivas...

Ao jantar, optámos por variar do centro de Arraial e zarpámos para Porto Seguro – só não foi uma decepção porque já sabíamos o que íamos encontrar – nada. Aproveitámos então para iniciar a sessão de fotos para o nosso quadro. Muitos sorrisos forçados, que como já era de esperar não deram em nada, porque se acabou por escolher as menos óbvias e mais naturais. Mas valeu pelo passeio a pé, para fazer a digestão. O regresso ao Sinuca foi substituído por um jogo de matraquilhos, onde o resultado voltou ao de sempre: 15 – 0 …


Dia 06

Foram levantar o carro à Pousada às 10:00 e fomos de ônibus até à galeria entregar as fotos para o Casado nos ajudar a escolher, e depois de um outro ônibus até ao centro, fomos a pé até à Praia da Pitinga – visita sugerida pela Teresinha, face às enormes falésias cor de fogo, descritas por Pêro Vaz de Caminha, na sua carta como escrivão de Pedro Alvares Cabral – considerada como “a Certidão de Nascimento” Brasileira. Contudo não foi nada de mais, considerando as maravilhosas Praias onde já estivéramos, mas comemos bem e sempre deu para um bate papo com um dos grupinhos mais fixes do pessoal que aterrou ali connosco – um Pai divorciado e seus dois filhos – muito boa onda, ou não fossem eles da Invicta!
Partilhámos uma “Van” que nos levou até à Praça Central do Arraial – era o dia da romaria, o descampado cheio de gente, com jogos, feirantes, roulotes e muita animação popular. Chegámos bem a tempo do momento principal - a procissão de Nossa Sr.ª da Ajuda. Mais uma gratificante experiência à qual se juntou a missa às 19:30 (bem mais alegre e confiante que as nossas, diga-se de passagem!). Jantámos no “Mister Pasta” uma massinha caseira com Picanha e depois de um passeio para as últimas compras, regressámos ao ninho para a nossa última noite.
Mesmo antes do fim, já nos entre-agradecíamos por tão magnificas férias. Que consolo!


Dia 07

The Last but not the least.
Apesar do espírito de melancolia que se instalou na nossa mente pelo fim das férias, aquilo foi mesmo um aproveitar as aparas todas, rapar os restos e esticar a corda e a memória da máquina fotográfica.
Não obstante a chuva grossa que caiu pela manhã, quando nos preparávamos para ficar ali no “café-da-manhã” a terminar os nossos livros, de repente o sol abriu e a Praia chamou por nós.
Tínhamos guardado para o último dia a ida à própria praia do Beija Mar, e realmente valeu, porque o mar estava calmo, a água estava morna e a areia aqueceu tanto como os nossos corpos ao Sol. Terminámos os nossos segundos livros e terminámos as férias em pleno.
Mas, mas, ainda deu tempo para depois de cara lavada, mala pronta e barriga cheia, irmos à “vernisage” do Geraldo Casado! Foi brindar com “uma Champanhe”, comer Cocada e dar abraços de despedida.
Formalizámos a compra e ficámos muito orgulhosos quando em tom de brincadeira perguntou se prescindíamos dos nossos direitos de autor e o autorizávamos a colocar uma foto nossa com a obra, junto às restantes no mural: “É que vocês têm bom astral e transmitem uma energia positiva – e eu preciso disso aqui.”

P.S.

Este Post teve a preciosa colaboração do meu Xodó

10 janeiro, 2008

Olha a figurinha...

01 Janeiro de 2008.
Moledo do Minho, Portugal.
Hora local: 16,20
horas
Temperatura: um frio de rachar – p’raí uns 12ºC negativos; Chuva qual
inundação e ventania como se de um tufão se tratasse.
Estado de espírito à
chegada: fantástico - fora a fome.
Estado de espírito às 16,25 horas: CHOQUE!

Na Porta do mais fixe café da praça de Moledo, num letreiro vermelho,
lia-se: «Não fumadores»




Meus amigos: O que vem a ser isto? Mas então
uma pessoa já não pode vir descansadinha das férias, relaxada até mai-não,
esperançada no novo ano, saudosa do regresso a casa após 3 dias de semi-inferno
Espanhol (meio porque lá em 50% dos sitios «permite se fumar»), para chegar a um
dos seus sitios preferidos, desejosa de um café decente e dar de caras com… com…
com aquilo!
Buáááá……….




Vamos lá a ver. Não é que eu seja uma grande
fumadora, nem é que eu seja uma real viciada. Eu é mais pelo prazer e pelo
hábito, que fumo os meus 2 ou 3 cigarrinhos por dia (não se contabiliza aqui os
outros nocturnos nas saídas de fins de semana, ou em amenas cavaqueiras
caseiras). Aliás um maço de português Azul dá-me à vontade para uma semana. Mas
é exactamente por isso que Euzinha, me sinto mais atingida que os mais
viciados: Ora se eu só ia ao café para fumar um cigarrito, e se a mim só me
apetece fumar com o café… Ora bolas. Quer-se dezer, que é que é que eu
afinal vou lá fazer?
Para isso, tomo em casa. Agora não fumar, como alguns
me dizem, é que não!
Então, pois se só são aqueles míseros cigarros…
Arre!!!

Mas o pior, o pior, são as figurinhas… Meus caros, se vocês
sonhassem com as figurinhas que tenho feito nestes últimos dias, em que o tempo
tem estado de bradar aos céus… Olhem só visto, porque contado ninguém acredita.
Mas, claro (!), vou contar na mesma :)




Quarta de manhã, café do
costume ao pé do trabalho, hora habitual.
Situação estranha: café “às
moscas”. Pasma, pergunto. “aqui pode-se fumar, certo?”
Não. Não se podia
fumar. Então indignada, já nem vou para a mesa e dirijo-me ao balcão. Pago o
café e pego na chávena e dirijo-me para a porta. Acendo um cigarro.
Figurinha triste: esta e chega. Situação de nervos com a figurinha triste,
os coleguinhas e alguns superiores, que vão passando na rua e olhando para mim
de soslaio…


Quinta ao almoço, casa dos Pápis. Número de cafés: 3

“Mas tu hoje queres tomar café aqui?”
- “Quero e não vou lá para fora fumar,
que tá frio. Desculpem lá, mas nos cafés não se pode fumar…”
Figurinha
triste, esta e basta. Situação de nervos: ver a minha Mãe nervosa porque estou a
fumar dentro de casa…


Sexta de manhã. Posto de abastecimento da BP na
A4. Entrada para a parte de restauração. Na placa lia-se: “proibido fumar”.
‘Da-se!!! P’lo Amor de Deus. Encaminho-me então para a Loja e saco um café da
maquineta para levar para o carro. “Ah-Ah! Com esta não contavam vocês. Achei
uma solução! Achei uma solução! Achei uma solução!” Pois… Foi só para aquela
vez, porque conseguir pousar o café não dá, e conduzir de
copinho-minusculo-a-escaldar-nas-mãos, mais vidro aberto e cigarro – não dá!!!
Que figurinha TÃO triste…


Sexta ao almoço. Procuro o maior restaurante
em Guardizela – Guimarães. E avisto um: Ei-lo. Aquele há-de permitir. Wrong
answer!!!! Após a degustação, peço o café e começo a pensar numa maneira de
conseguir fumar o cigarro. Vejo um pequeno hall de entrada antes da sala de
refeições – “Pode-se fumara li na entrada? – Não, menina… Eu sei que é uma
chatice, mas olhe… Não posso fazer nada. – E o senhor importava-se que eu
levasse a chávena para a rua e fumasse lá fora? – Ó menina. Esteja à vontade!”
Agora imaginem: uma terriola minúscula. Um temporal de chuva e vento. Uma
gaja toda vestidinha de saia e salto alto, chávena de café na mão esquerda;
Guarda-chuva equilibrado entre o queixo e ombro, e cigarrito na outra… Figurinha
MUITO triste. Situação menos ridícula: mais 4 pessoas vieram fazer o mesmo.


Moral da história: Estas figurinhas são intolerantes e totalmente
estúpidas. Mas a verdade é de facto não sei como vou fazer para as evitar. É que
isto é tão ridículo que eu estou disposta a mantê-las a bem do meu “bem-estar”,
porque convinhamos: são só dois ou três cigarrinhos por dia!

09 novembro, 2007

Paris de mãos dadas

Paris era como um sonho antigo, tão antigo era que estava prestes a virar apenas um sono bom.
Sempre pensei em Paris como aquela cidade onde se vai apaixonada, onde se vive um Amor, onde nos enamoramos eternamente, sei lá… O sitio onde tudo acontece.
Por este motivo, ir a Paris era mais que um sonho, era uma fantasia.
Mas mais: ir a Paris com o “mon Amourzinho”, fazer tudo o que fizemos, sentir tudo a dois e viver aquilo como se um só fossemos, era um utopia, logo não fazia parte dos planos.
Estar ali, assim tão plenamente acompanhada era uma sorte tal, que eu jamais me julgara assim abonada, mas a vida, surpreendentemente, às vezes dá-nos coisas realmente boas...
Eu fiz Paris de mãos dadas...


Como tudo o que brilha com luz própria, aquela cidade não precisa de realce algum.
Paris não é a frase feita da cidade-luz. Paris é a luz da Luz - tem uma velocidade impressionante no que concerne a Arte, Espectáculos, Museus, Actividades, etc., mas também tem uma lentidão exageradamente demorada, como quem se espreguiça numa cama lavada.
Paris, é isto. Paris é uma incoerência, mas acima de tudo, Paris é um pormenor enorme!
E o pormenor é tudo:
- A Luz fosca dos candeeiros ao entardecer, a luz cintilante da Torre Eiffel à noite, a luz matutina a cortar o nevoeiro e o friozinho da manhã, e é ainda a luz do Sol que sempre acaba por espreitar num improvável fim de tarde.

Passando aos factos, que vocês já estarão fartos desta melancolia toda, como fazer um apanhado desta indescritível viagem? Tudo o que disser ficará aquém do que foi na realidade, mas pode-se tentar…

Chegamos a Paris, Sorriso nos lábios, brilhosinho nos olhos! Tentava absorver tudo, só me apetecia ir logo procurar uma Boulangerie, tomar um café e ler um livro num banco qualquer.
Achei de imediato tudo lindo, e feita uma patetinha que nunca saíra da sua terrinha, sorria para todos os lados, não me importava de andar horas a pé (com uma meia elástica – sem comentários), dormir pouquinho, e pagar toujours 5€ pour un miserable expresso…
Até tentava falar Francês, aliás, tentávamos (…) «Je pesse pardon!»

Bom, a verdade é que não sei por onde começar…
Hum… Museus?
Não vou dizer que gostei mais do Louvre e da Monalisa que possui, só porque sim, ou porque o Dan Brown não sei lá o quê…
E o que é a Vénus de Milo ao pé da escultura de Canova do L’Amour et Psyché?
A Monalisa é a Monalisa, e já agora, para mim ela está a sorrir (independentemente das recentes descobertas de cientistas através do tal programa especial que “lê” as expressões de felicidade e infelicidade nos seres humanos…), ela sorri, mas não como eu sorri ao ver o Le bal du Moulin de la Galette do Renoir… ou ate mesmo os tectos do seu Museu - que são de cortar a respiração.

MAS, mas, se me pedirem escolhas, tops dos tops, etc, terei dificuldade, é certo, mas suponho que acabarei por desiludir alguns de vós – nada de mais. Também eu me desiludi nas “pré-escolhas” – mas é sempre assim, não é?
O Louvre é de uma dimensão enorme, é oponente, é demorado (sabiam que para o vermos integralmente precisamos de 9 meses?!), mas tem depois o pormenor do cafezinho, já fora do edifício, mas que se volta de frente para a linda pirâmide de vidro; O tal cafezinho, que lá se pode escrever coisas de Amor no verso de um marcador de um livro…

Museu?
Museu é o de Orsay. Não terei palavras para explicar. Pensar que construíram assim tão magistralmente uma simples estação de comboios… Como? Como é possível? É tão sumptuoso na sua arquitectura como nas suas obras. É grandioso. Lá está é uma grandiosidade que aqui de facto nos atinge em cheio. É grande como os braços abertos de Jesus Cristo no Sacré Cœur!
E já que se fala disto…
Catedral? Não, não é Notre Damme, é grande, mas não grandiosa. Lá perdi-me não nos pormenores dos seus magníficos Vitrais (também não estava um dia sol…), mas sim na fealdade maravilhosa dos seus Gárgulas – se ainda tivesse visto o Quasi Modo…
E um Monumento, um monumento? Bom, está é realmente dificil…

É tudo tão lindo! Tão LINDO! Desde os gradeamentos aos jardins, desde as portadas às varandas, desde as árvores às flores dos parapeitos… Os dourados das incontáveis estátuas, a beleza das pontes do Seine... Tudo…
Mas pronto, se é para eleger, pronto: A Opera de Garnier. Mon Dieu de la France! Quem me dera ter ido à sua inauguração! Imagino-me com um vestido de roda até aos pés, e o espartilho muito apertadinho e tudo o mais! Ai, que coisa! Bom, usar esta indumentária aí ou em Versailles…
Realmente! Eu só quis ser princesa e rodopiar por ali.

E por falar em rodopiar…
Romeu e Julieta, em ballet. Pela Opera Nacional de Paris, na sua nova casa. As nossas mãos dadas, o arrepio no braço, a leveza do toque – lembras-te? Acho que não preciso dizer mais nada…
Melhor refeição? Esta é fácil – também com aqueles preços, até os Croque Monsieurs em Trocadero deveriam ser um manjar divinal. Mas “A” refeição foi no Ciel de Paris, no 56º andar da Torre de Montparnasse. Ou la la!

Agora, querem saber uma das coisas que mais me surpreendeu? O espectáculo no Lido.
Achei que ia lá, para ver mais um show erótico que outra coisa, pois bem. Fiquei maravilhada.
Essa noite foi maravilhosa. Nessa noite, senti-me maravilhosa. Dessa noite trouxe uma recordação maravilhosa. Um “Agora ou nunca” vindo dos lábios dele, e que me levou à pista de dança ao som de uma fantástica orquestra.
Quiça não foi a dança da minha vida?

Não há um ponto alto da viagem, porque de facto foi TUDO, “tão bom, tão belo”… Foi tudo eterno. Mas posso dizer que houve, sim, momentos de uma felicidade tal, de uma alegria no olhar, de uma cumplicidade com as pedras da calçada, que fecho os olhos e:
- Montmartre! La Place du Tertre! E vêm-me as lágrimas aos olhos.
- A Roda na Place de la Concorde! Paris aos nossos pés! E vêm-me as lágrimas aos olhos.
- Jantar no Barco a passear pelas margens do Seine! E vêm-me as lágrimas aos olhos.
- A pista de dança do Lido e a caneta que gravou o momento! E vêm-me as lágrimas aos olhos.
- A escultura da Camille Claudelle no Museu do Rodin! E vêm-me as lágrimas aos olhos.
Mas lá está, uma vez mais: A sensação causada em mim por esta artista, mas na casa de outro (o outro que na realidade fez dela a outra e a negou…)
Contudo isto é mesmo assim! Fiquei tão feliz, tão FELIZ por ter descoberto a Camille (desconhecia por completo a sua existência e a sua obra). A Camille teve um peso brutal no meu olhar pasmo para aquela Peça: “Le fin de l’age de l’Amour”… Mas Mr. Auguste Rodin não lhe fica atrás – Têm indiscutivelmente (!) magnitude as suas peças, como se vê na beleza do seu “Beijo”, e no entanto o que mais me tocou na sua obra foi a “Mão de Deus” ou a Eva a ouvir o seu Sermão.

A viagem teve outros momentos dignos de registo, como logo no primeiro, termos de saltar as barreiras do Metro porque não tínhamos bilhete… Ou fugir do jardim labiríntico do Louvre, quando nos apercebemos que pululavam cabeças dos seus meandros devido à impressionante prostituição nocturna masculina (era ve-los a surgir do nada, do meio dos arbustos… só visto!)… Ou então atrasar o já curto sono, só para terminar o livro das cheias Parisienses…
E subir e descer as escadas do Metro com Malas e trolleys e carry on?
Ou o procurar a estátua do Escriba sentado na imensidão do Louvre – um Filme!!!!

E ficou tanto por ver! Do plano inicial, falhou a Saint Chapelle, La defense, Saint Germain de Près, a voltinha no Carrossel, Les Invalides, o Panteão…
Só houve mesmo duas coisas, que não faço a mínima intenção de rever: O Museu do Picasso e o Cemitério de Père-Lachaise (que frustração aquele túmulo do Óscar Wilde, cujo Epitáfio me levou a procura-lo e depois nada se vê, que não sejam marcas de baton…)

Enfin. C’est tout mes amies.
Só me resta agradecer…
Je t’aime mon amour! Mercie pour ces vacances.
JTM

17 setembro, 2007

1001 Eterane

Antes de tudo, peço desculpa pela demora, e também pelo tamanho e aparencia do texto - não consigo fazer isto melhor... aaaaaaaaaaaaaaaa
aaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaa aaaaaaaaaaaaaaa

(...)
Quando a Caterrine decidiu vir connosco a Marrocos, eu fiquei super entusiasmada, porque afinal além da Tilt – minha companheira de tantas férias, eu não conhecia basicamente ninguém. Sim, porque ir com o Meia ou não ir, é a mesma coisa – tal é a companhia dele… E mais a mais eu já estava a fazer alguns filmes relacionados com os ditos amigos dele de Lisboa, principalmente com o Babe - gajo de Lisboa que estava a organizar tudo e que era a pessoa com quem eu mais falava em relação a Marrocos.
Mas então porquê os filmes? aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Porque eu adoro cinema mas os filmes onde me metem, dão sempre errado porque há uma certa tendência a haver algum “engendrar de esquemas”… Pelo menos no passado foi assim, e quando eu percebi que afinal o Meia não ia levar a mulher, e que do grupo da viagem, as gajas se resumiam a mim e às minhas duas amigas, comecei logo a fazer uma curta metragem, a sorte é que eu sou muito má realizadora… E além do mais, o Babe, nos e-mails, telefonemas e demais acções relacionadas com a viagem, sempre se mostrou uma pessoa muito equilibrada, boa onda e até simpatizava com ele, mas quando pensava na ligação dele ao Meia, ficava um pouco boquiaberta, tamanhas me pareciam as diferenças. aaaa
Bom, filme em stand by – pelo menos até à concretização da viagem, e coração ao alto, lá vamos nós. As expectativas relacionadas com Marrocos eram imensas, mas devo admitir que para a maioria de nós, foi o plano da Caterrine que nos fez definir the Real goal: aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa aa
- Dormir no meio do deserto, em reais tendas Berberes, com o verdadeiro povo nómada.
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
A viagem começou no Porto com as gajas e o Meia de carro, até à capital onde nos iamos encontrar e conhecer os outros viajantes: o Babe, o Casablanca (tipo Lisboeta que morava há 4 anos em Marrocos) e o Pachá. Os outros dois, eram um casal de estrangeiros, mas só iriam aparecer depois – A Noelle e o Michael (ela Francesa ele Alemão). Posto isto, avançamos em direcção ao Algarve para na manhã seguinte irmos apanhar o Ferry que nos levaria até Marrocos. Chegamos, alugamos os Jipes e fomos buscar os “Estranjas”. De imediato se criou muita empatia entre todos, mas houve a necessidade de dividir as pessoas pelos veículos e criaram-se então dois grupos: A Tilt e a Caterrine iriam com o Pachá o Casablanca e o Meia, e eu e o Babe, iríamos com o Michael e a Noelle – porque falávamos melhor Inglês (…)
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
A 1ª paragem foi em Casablanca, e posso dizer-vos que só não foi maior a desilusão (há sempre aquela cena do Bogart na nossa cabeça, não é?), porque já nos tinham avisado que aquilo não tem absolutamente NADA para ver… Daí seguimos viagem para Marraquexe. UAU: é maravilhoso! Aquela Medina é uma coisa! A confusão no meio das “ruelas”, as mulheres tapadas, o comércio, as bicicletas, as carroças, as motas, os carros… Tudo se vê e se vende naquelas ruas, mas a poluição atmosférica é simplesmente indesmentível e indescritível! Não há contudo nada que me fizesse gostar menos daquilo. Principalmente porque no centro de tudo aquilo, o paraíso:
O Riad! Ai o Riad…Alugamos quartos num sitio aconselhado no Guia da Lonely Planet (que eu tinha na prateleira há 3 anos – tamanha a demora na concretização desta viagem), e não nos arrependemos: Estes sítios - muito comuns nestas paragens, são casas privadas, com um jardinzinho no meio, um quintal, uma “piscininha”… Lembro-me tão bem da beleza daquela decoração - os panos brancos para tapar o Sol estendidos por cima das camas do terraço, as buganvílias brancas a imacularem ainda mais o sitio, a musica de fundo, a massagem oriental que nos fizeram (tivemos de pagar – claro!), o silencio… Infelizmente não aproveitamos grande coisa da cidade em si, porque andávamos sempre cheios de sono, tais eram as horas a que nos deitávamos e as horas a que nos levantávamos, e como não prescindi da massagem…
Bom, dali fomos para outro dos pontos fulcrais da viagem: fazer de jipe as trilhas do deserto… Meu Deus, que sacrifício. E que dor no peito tão grande, ao ver a vida daquele povo… Aqueles sorrisos, aqueles olhares, aquelas mãos… A fome, a falta de condições... Meu Deus, que projectos têm aquelas crianças? A Mãe a tirar da mão do menino uma bolacha que eu mesma dera ao filho - o que me deixou danada, mas afinal era para repartir pelas outros filhotes… Quase chorei. E o pior é que não tínhamos mais nada de comer para lhes dar… Adiante. aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Em relação à aventura de jipe nas trilhas… Bom, digamos que deixei de achar grande moca a partir da 1ª hora de solavancos, calor, e outras vontades juvenis de “sacar peões”, mas há que manter os espírito de grupo, e então lá seguimos – plenamente convencidos que não nos iríamos perder, mas claro, quais mapas, GPS ou bússola – o Babe bem me tentava acalmar mostrando-me a direcção com a bússola por cima do mapa: - “vês? Não estamos perdidos, estamos a dirigir-nos para Leste” – “Sim? E há um minuto não era afinal para Norte que era a direcção correcta?” – Sorria e tentava desdramatizar, mas eu estava-me a passar: um calor infernal num jipe que estava completamente avariado, porque nada funcionava: o AC não funcionava bem como o rádio! Mas não era só a rádio que não se ouvia, porque comprámos cassetes e estas também não tocavam… aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Olhava para a carinha da Caterrine, e os nosso cúmplices olhares mostravam que só pensávamos que nunca iríamos conseguir chegar a tempo ao deserto para a nossa noite Berbere – já estávamos perdidos há duas horas… aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
O cansaço, a sede, a fome, o calor, o calor, ah, e o calor também…
Depois era a DOIDA VARRIDA da Noelle, que era uma tipa muito fixe – entenda-se, mas que com os seus 25 aninhos (…), tinha uma aversão em ficar para trás, e então só queria conduzir tipo louca sem adrenalina suficiente que a satisfizesse, e fazer daquela trilha uma pista de F1 em pleno deserto Marroquino, com o intuito de ultrapassar a todo o custo o outro carro: aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
- “We must be the best team! Com’on guys!” E claro, tanto andou tanto fez, que quando finalmente chegamos a “porto seguro”, a bateria estava partida a meio (literalmente), as borrachas de protecção de 3 das 4 portas estavam descoladas, bem como um pedaço de uma cena qualquer do tejadilho que voou – algures nas trilhas do deserto (pode ser que um daqueles miúdos que apareciam como que por magia, no meio das rochas do deserto, a tenha achado e tenha feito uma estaca grandinha, para colocar mais visível a dita placa de orientação – “que era impossível não ver”- diziam-nos eles num Francês muito Marroquino (que quase ninguém entendia – nem a Noelle, só o Casablanca mesmo), mas a placa era tão irrisoriamente pequena, que estava no chão e, de dentro do jipe nem a conseguíamos ver… aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Bom, quando finalmente vimos os Dromedários, os sorrisos nas nossas caras era já uma luz. Aqueles olhares felizes entre todos, apesar do imenso cansaço, era já um sinal. O sinal para uma das melhores noites da minha vida: aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
- A inesquecível noite no deserto das mil e umas estrelas: 1001 Eterane!
Íamos fazer uma cena linda: Sun Set - Sun Rise. Sairíamos para o deserto ao fim da tarde, andaríamos de Dromedários 1 horita (que depois se dobrou, pq tivemos de parar duas vezes, tal era o conforto daquele meio de transporte…), jantaríamos e dormiríamos nas tendas, e então regressaríamos no dia seguinte. Mas foi melhor! Foi maravilhosamente melhor! Nem o SUPLÍCIO de andar naquele bichinho, me fez mudar de opinião. O que vivemos foi tão grande, tão especial, tão natural, tão lindo, tão lindo… aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
No final do magnifico jantar - uma Tagine (estufado de frango ou borrego) em nada parecida com as fracas Tagines de Marraquexe, fomos ouvi-los tocar tambor.
Olhei à volta e só via dunas e dunas e dunas e dunas… Metros e metros de altura, a imensidão daquele sítio. Observei toda a gente de todos os lados, vi a alegria da Caterrine deslumbrada a dançar ao som dos tambores, vi a paz na expressão da Tilt, vi o sorriso do Babe a olhar para mim, vi a cara de descanso do Casablanca - que tinha muito receio desta coisa de dormir no meio daquela gente, e pensei: isto é 1000! aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Mas ainda havia mais de 1000 – não acabava ali aquele momento impressionante, de repente começámos a vê-los levar colchões, roupa de cama, almofadas (eles levavam de tudo o que possam imaginar nas bolsas pendentes dos dromedários), para dentro das tendas, e então pensamos: Bute mas é para as dunas! Vamos dormir ao relento. E meus caros: dormir ao relento, ali, com aquela temperatura, com aquela brisa, na areia das dunas do deserto Sahara, e olhar para o céu e ver as estrelas, e pensar: “só me falta o Amor aqui”… E sabem que mais? Afinal ele já lá estava: bem ao meu lado a olhar para mim e a fazer-me festinhas nas pontas do cabelo – mas isso é outra grande história! aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa E acordar ali? Abrir os olhos e ver a aurora do Sahara (pronto, admito que abri os olhos e vi o Flash da câmara do Casablanca nas mãos do Pachá, a tirar peligrafias ao pessoal ainda a dormir - mas pronto, para não estragar o relato, até porque as ditas fotos estão LINDAS, vamos fazer de conta que acordei com o brilho solar…), participar do nascer do sol e ter ao meu lado pessoas assim tão especiais e tão queridas, fez-me agradecer (juro!) a Deus ou a Allah.
E mais palavras para quê? Trouxe tanta coisa na bagagem mental desta viagem, que seriam precisos muitos Posts para descrever tudo! Mas o melhor, o maior de tudo, a memória que jamais se apagará, foi de facto aquela noite, com aquelas pessoas, naquele sítio.
Tá bem, “prontos”: E foi o Amor que encontrei perdido no deserto, na sua 1ª forma de pedrinha fossilizada. aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
1001 Eterane *